Julio Flores: “o projeto do nosso partido é o chamado à rebelião dos de baixo”

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Julio Flores (PSTU) recebeu o Sul21 na sede do Partido, em Porto Alegre. Foto: Guilherme Santos/Sul21

Por Annie Castro 

“Nós estamos em uma era em que é preciso mudanças profundas, e isso significa uma mudança social. É tirar os de cima para os de baixo governarem”. Com um projeto que tem como proposta uma revolução social, Julio Flores (PSTU) participa neste ano do seu 11º processo eleitoral. O primeiro cargo ao qual concorreu foi para a Prefeitura de Porto Alegre, em 1996. Desde então, já disputou eleições para vereador, deputado estadual, senador, prefeito e governador.

Filho de João Adão e de Alda, Flores nasceu em uma família onde o avô paterno era peão nas estância de Jango e de Getúlio Vargas. Apesar dos ideias políticos passados como herança pelo avô, Flores não concordava com o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), apoiado pelo pai. Apesar disso, as diferenças ideológicas ao longo dos anos não impediram que o candidato tivesse o entendimento da família ao longo de sua carreia política. “Apoio não muito, mas compreensão sim”, conta Flores, em entrevista ao Sul21, realizada na sede do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado, em Porto Alegre. “Meu pai não gostava muito, nós tivemos alguns conflitos. Ele tinha outras convicções, mas depois foi mudando, sempre me perguntava entusiasmado e passou a apoiar. Com minha mãe eu não debatia nesse terreno. Mãe é mãe, resume tudo né”. Flores tem ainda o apoio do filho Nicolas, de 24, que chegou a militar no PSTU durante um tempo.

Júlio Flores (PSTU) defende um governo baseado em conselhos populares. Foto: Guilherme Santos/Sul21

Além da vida política, há 18 anos Flores é professor de matemática na rede pública e na estadual. Ele, que dá aula para os ensinos fundamental e médio, não cogitou ao longo da carreira deixar de ensinar para assumir algum cargo administrativo nos colégios onde trabalha. “Das funções de uma escola eu gosto é da sala de aula”, afirma. “Nesses anos alguns colegas sempre perguntavam se eu não queria ser diretor da escola. Eu respondia: jamais”.

O professor ingressou na carreira política muito antes de se candidatar para prefeito. Foi por volta de 1975, no grêmio estudantil do Colégio Estadual de São Borja, cidade natal de Flores, que deu seus primeiros passos rumo à militância, enquanto atuava na produção do jornal realizado pelo grêmio e participava de alguns congressos políticos.

Quando se formou no ensino médio, foi morar em Porto Alegre para trabalhar no antigo Banco SulBrasileiro, em 1997. Na mesma época, ingressou no curso de Ciências e Matemática na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), onde entrou para o movimento estudantil, militando no centro acadêmico da Faculdade e, mais tarde, no Diretório Central (DCE). Para além da universidade, atuou também liderando greves liderando greves da categoria bancária contra a privatização do Banco Meridional.

Foi nesse período que Flores entrou para a Convergência Socialista – tendo ali seus primeiros contatos com os ideais do socialismo – e ajudou na fundação do Partido dos Trabalhadores (PT), onde militou até 1992, após ser expulso do partido por divergências ideológicas com a direção do partido. “A Convergência e outros grupos dos quais eu fazia parte defendiam abertamente o ‘Fora Color’, e a direção era contra isso”, explica.

Da época em que militava no PT e no DCE, Flores chegou a ser expulso da universidade por ser acusado de estar formando um núcleo do partido dentro da PUCRS, devido a uma espécie de boicote às mensalidade, promovido por ele e por outros estudantes. “Foi aberto um processo administrativo, interno, mas era político né”, afirma. Em 1994, fundou, junto com os grupos expulsos e outros de fora do PT, o PSTU.

Nas paredes da sede atual do PSTU há cartazes com frases como ‘Fora Temer’ e ‘Fora todos eles’, forte slogan da campanha do partido, que também tem uma chapa concorrendo à Presidência da República – Os dizeres são representações do que Flores, assim como o partido, acreditam ser necessário para mudar o cenário econômico e social do Brasil: uma política de governo baseado em conselhos populares, formado pelo povo e sem empresários. “Conselhos populares são organizações eleitas em assembleias de trabalhadores, nos locais de trabalhos, nas fábricas, nos bancos, nas escolas, na periferia, entre a população pobre das cidades”, explica Flores. “É assim que nós vamos funcionar para substituir essas instituições podres que temos aí e que estão cheias de corruptos. Esse governo socialista dos trabalhadores é que tomaria todas as medidas de enfrentamento ao grande capital para ter capacidade de resolver os problemas da maioria da população.”

“O que para nós importa nesse momento é mostrar pro povo que do jeito que tem sido feito até hoje nós não vamos mudar a situação da população”, diz Flores. Foto: Guilherme Santos/Sul21

Sul21: Por que o senhor decidiu ser candidato ao governo do Estado?

Flores: Por três motivos. Primeiro é que o partido me pediu porque eu tenho representado o partido durante um longo processo. Eu aceitei porque de fato acumulei uma certa experiência nesse tema, e terceiro porque estou muito empolgado em defender esse projeto do nosso partido, que é o chamado à rebelião dos trabalhadores, dos de baixo, dos explorados e oprimidos para derrubar os de cima. Nós precisamos aí de uma revolução socialista e para isso é preciso que haja uma revolução popular, que haja uma rebelião que desmonte esse sistema, e particularmente coloque os corruptos na cadeia e os corruptores, que confisque seus bens. Eu acho que esse é um tema central para mobilização porque os trabalhadores, o povo, não suportam mais tanta exploração, tanta miséria e tanta corrupção. O meu projeto é uma revolução social. O nosso projeto é uma mudança profunda na sociedade que garanta condições de vida iguais para toda a população, particularmente para população mais pobre.

Sul21: Qual é a primeira coisa que a população gaúcha poderá cobrar se o senhor for eleito?

Flores: Obviamente que mexer nesse vespeiro. A suspensão do pagamento da dívida com o Governo Federal, o fim das isenções para as grandes empresas que tem sede aqui no Estado e que não precisam se isenção de impostos. Quem precisa são os trabalhadores, é o povo pobre. Esse dinheiro das isenções nós poderíamos investir na saúde, na educação, na segurança pública, numa reforma agrária profunda e também em um plano de obras públicas que construíssem hospitais, moradias populares, obras de infraestrutura que satisfaçam as necessidades dos trabalhadores e ao mesmo tempo gerem empregos. São medidas fundamentais para mudarmos a face do estado e ter mais dinheiro. Além disso a gente quer reestatizar todas as estatais que foram privatizadas, bem como anular todas as extinções das fundações que o Governo Sartori fez, para que a gente possa recuperar o poder do estado e obviamente retornar o processo de privatização branca que está em curso sob o Banrisul. Nós queremos que a gente desenvolva um processo de mobilização popular num sentido de reverter todos esses processos, de resolver esses problemas, de enfrentar o grande capital, e no meio desse caminho ir construindo aquilo que nós chamamos de conselhos populares, que são aqueles que realmente vão governar o estado.

Sul21: Como o senhor pretende lidar com os pagamentos de salários dos servidores estaduais?

Flores: Em primeiro lugar, pagar em dia. É preciso que a gente atenda essa exigência porque é um crime o que o governo Sartori está fazendo. São muitos meses em que o governo atrasa ou parcela, e isso de fato leva a que os servidores não consigam pagar as contas e pagam juros por causa disso. Muitas vezes boa parte dos servidores vai até o Banrisul para fazer um empréstimo para pegar o valor do seu salário e paga juros por isso. Do nosso ponto de vista essa é a primeira coisa que tem que resolver.

A outra é discutir com o servidores a reposição salarial porque houve perda em todo esse tempo. Isso não é só para satisfazer os servidores em si, é também para que nós tenhamos um serviço público de qualidade, embora, mesmo com essa situação toda de miserabilidade, eles já prestem serviços de qualidade. Ainda assim nós achamos que é necessário corrigir isso. Esse tipo de situação está envolvendo muitas vezes adoecimento psicológico nos nossos colegas por terem que passar por condições humilhantes, inaceitáveis. E tudo isso para quê? Para beneficiar os seus amigos. O senhor Sartori obviamente faz isso, economiza nesse lado porque ele precisa beneficiar os grandes empresários do Estado com isenções fiscais. Nós temos que fazer uma revolução aí, inverter totalmente essa equação. Pensar primeiro nos funcionários e não em grandes empresários.

Sul21: Como o senhor irá lidar com o pagamento da dívida com a União e como fará para que essa questão seja equacionada a longo prazo, não apenas em seu mandato?

Flores: Em primeiro lugar, é preciso registrar que sob o Governo Britto foi feito um acordo da dívida em que ela estava em nove bilhões. Esse acordo fez com que ela saltasse de lá pra cá para 67 bilhões, mais de sete vezes a dívida original. O mais escandaloso é que nós já pagamos isso. O que se paga hoje não é montante da dívida, são juros e amortizações, então nós ficamos reféns do sistema financeiro porque é para onde vai essa grana.

Nós não pagaríamos essa dívida porque ela já foi paga. Se já foi paga não precisa pagar mais. Acho que a mobilização deve ser em torno disso, da exigência que essa dívida seja anulada. Essa é a nossa proposta e obviamente isso vai envolver mobilização.

Tudo depende de qual vai ser o governo federal. Num governo nosso seria diferente, essas coisas seriam discutidas no mesmo patamar e a dívida seria facilmente anulada por já ter sido paga. Nós precisamos justamente desse dinheiro para investir em saúde e educação. Sob um outro governo seria necessária uma mobilização popular o tempo inteiro para arrancar essa conquista do governo central.

Sul21: Quais suas propostas para melhorar os resultados do Estado em educação?

Flores: Investindo, pesadamente. Com as medidas para ter uma arrecadação maior nós teríamos dinheiro de sobra para investir nas áreas sociais, entre elas a educação, que é uma das mais importantes. Em primeiro lugar precisamos colocar o jovem, a criança, na escola. Tem muita gente que tá fora da escola.

O outro aspecto é uma remuneração adequada para os professores e funcionários das escolas, que satisfaça suas necessidades básicas.

E terceiro lugar são condições de vida dignas pra população. Uma criança que passa fome e inúmeras privações a tendência é que haja um desenvolvimento não adequado da sua cognição, do seu desenvolvimento. É preciso que as pessoas tenham uma casa pra morar, que tenham uma infraestrutura de saneamento básico e, portanto, saúde… Isso tudo está interligado. A educação cumpre um papel importante, mas as outras coisas são importantes para mudar essa relação com o aprendizado para que ele seja realmente eficaz.

Tem também a questão do ensino médio. Nós temos uma visão de ensino politécnico de verdade, não o arremedo que o Tarso e o José Clóvis quiseram fazer aqui sob seu governo. Que em pelo menos dois turnos o jovem possa ter uma formação integrada, tanto com disciplinas exatas mas também com humanidade, que ele tenha uma formação integral porque é isso que o ser humano precisa. Essa é a nossa concepção do ensino politécnico com uma formação qualificada, de trabalhadores qualificados para melhor desenvolver a sociedade, a economia.

“É necessário que haja uma mudança profunda na segurança pública. Nós queremos uma polícia única desmilitarizada”, afirma Júlio Flores. Foto: Guilherme Santos/Sul21

Sul21 – Na saúde, como o senhor irá lidar com um cenário de congelamento de gastos, que impede os investimentos em saúde pelo governo federal pelas as próximas duas décadas?

Flores: É preciso por um lado reverter, não ter mais esse congelamento dos investimentos, acabar com ele a nível nacional, com o PSTU entrando na Presidência. Por outro lado é preciso que a gente tenha medidas que garantam investimentos nas áreas na saúde. Esse dinheiro que estaria congelado precisaria ser revertido para essa área, mas é preciso mais, como essas medidas que citei anteriormente arrecadariam dinheiro para poder investir.

Caso o PSTU não entre a nível nacional, o Rio Grande do Sul teria que lutar contra, teria que organizar a população para enfrentar a situação. Haveria reação por parte das classes dominantes, e nós teríamos que mobilizar o povo para ir no sentido contrário. É pior ainda se for com um governo que não concorde com essas mudanças que a gente quer, mas a gente tem que encarar a coisa como é… Teria que mobilizar o povo e os conselhos populares, fazer alianças com trabalhadores e movimentos sociais dos outros estados. Transformar isso numa luta nacional contra a PEC do Teto dos Gastos, pra anular o congelamento…

É preciso ainda construir hospitais nas regiões mais necessitadas para que as pessoas tenham acesso fácil a um tratamento especializado nas suas próprias cidades, para não precisar vir até Porto Alegre. As enfermidades não são um privilégio da capital, todo mundo adoece da mesma forma. Então, é preciso que se facilite isso, construindo postos de saúde, hospitais especializados, que possam atender as demandas dessa área.

Sul21: Em termos de segurança, é possível apresentar melhores resultados sem recuperar os quadros das forças de segurança, que estão com seus menores contingentes na história?

Flores: A nossa visão é de que nós não queremos aumentar o aparato repressivo porque é isso que as forças de segurança são e atuam, em geral, em defesa dos grandes capitalistas e da propriedade privada. Ao invés de perseguir e reprimir os corruptos que tão roubando o dinheiro público, elas tão aí pra bater em trabalhador. É necessário que haja uma mudança profunda na segurança pública. Nós queremos uma polícia única desmilitarizada, controlada pelos conselhos populares externamente, onde a população nas suas regiões decide o que a segurança pública vai fazer, qual é o papel dela, e internamente, onde os servidores da segurança possam eleger os seus comandantes.

Ainda, nós somos a favor da descriminalização e legalização das drogas pra fazer com que as quadrilhas do tráfico saiam à luz do dia. E aí numa situação dessas faz cada vez menos sentido o sistema prisional que nós temos hoje.

Sul21: A crise econômica também é um problema de falta de crescimento. Qual a sua estratégia para desenvolver a economia do Rio Grande do Sul?

Flores: São essas medidas de não pagamento da dívida, de acabar com as isenções de impostos para grandes empresários, a estatização do sistema financeiro, é preciso a gente expropriar os bancos, colocar sob o controle dos trabalhadores. Uma da medidas seria também a reforma agrária porque o agronegócio está voltado para a exportação, ou seja, não é voltado para alimentar os trabalhadores, o povo. A maioria do produto de alimentos é feito pela pequena propriedade. Então essa reforma agrária significaria, por um lado, acabar com o latifúndio e, por outro, gerar emprego para as pessoas.

A outra é a inovação tecnológica, não para ser usada como aumento do ritmo de trabalho para explorar mais o trabalhador, mas para aliviar a carga de trabalho. Hoje em dia o operário vai da casa pro trabalho, do trabalho pra casa. Óbvio que com isso, dividindo o trabalho necessário e existente entre todos, nós teríamos uma produção de qualidade superior e ainda mais no desenvolvimento científico e tecnológico para produzir. Essa inovação tecnológica viria por meio do incentivo à ciência, primeiro recuperando a Cientec, a Fepagro. Recuperar essas fundações e colocá-las à serviço do desenvolvimento da economia.

Sul21: O senhor mencionou o agronegócio. Sabemos que a agricultura é uma das principais atividades econômicas do Rio Grande do Sul. Dentro disso, qual será a sua política para essa área?

Flores: O agronegócio é a extinção. Simples assim. Para fins de reforma agrária. Claro tem coisas de transição como acabar com a lei Kandir e com esse negócio do agrotóxico e a questão dos transgênicos. Isso é um tema muito importante porque hoje tudo que a gente come tá envenenado em certa medida, tudo. Acabar com isso significa expropriar a Monsanto, a Bayer, colocar essas empresas grandes sob controle dos trabalhadores e modificar a linha de produção para produzir coisas não tóxicas. Produzir uma alimentação saudável pra chegar na mesa do trabalhador…

E ainda com a reforma agrária e com a pequena propriedade nós teríamos portanto um desenvolvimento econômico social maior, os agricultores que não tem terra para plantar, que vivem na beira da estrada m barracas de lona, em péssimas condições teriam onde trabalhar, teriam uma renda. E nós teríamos um estímulo para que aqueles agricultores que não tem terra pra plantar pudessem trabalhar em fazendas coletivas. Não precisa ter uma propriedade para produzir, mas produzir coletivamente. Isso obviamente otimizaria um monte a economia. Claro, são medidas combinadas a nível nacional e estadual. Mas mesmo assim, se estivéssemos isolados aqui no Rio Grande do Sul nós teríamos que fazer isso igual, contrariando esses interesses.

Sul21: Nós tivemos recentemente o fim da concessão da Freeway para a Concepa. Por outro lado, uma das grandes demandas dos gaúchos é a qualificação das estradas. Quais são as suas propostas para ampliar e fazer a manutenção das rodovias estaduais?

Flores: A gente tem uma visão mais complexa da visão do transporte, não só de pessoas, mas também da produção. Primeiro que nós somos contrários a fazer concessões para certos grupos econômicos cobrarem pedágio. Alias, somos contra os pedágios. E obviamente com as medidas que teríamos uma arrecadação superior, poderíamos investir uma margem desse dinheiro na manutenção, na recuperação dessas estradas… Nós pensamos um pouquinho mais longe em relação a isso, a gente precisaria diminuir o modo de transporte poluente, ou seja, a indústria automobilística, usar veículos que não usem combustível fóssil. Nós pensamos em desenvolver uma pesquisa para isso e também expropriado essas grandes empresas. Nós estamos falando de revolução.

Pensamos também em hidrovias, temos várias possibilidades de ampliar os rios Guaíba, Jacuí. E outra coisa que nós poderíamos e deveríamos é recuperar a rede ferroviária federal e estadual.. A gente pensa nessas coisas assim, uma coisa integrada que não agrida o meio ambiente…

“Nós não achamos que o processo eleitoral possa mudar a situação, nós queremos mudanças nas estruturas sociais”, diz Flores Foto: Guilherme Santos/Sul21

Sul21: Como tu enxergas atualmente o PSTU dentro da esquerda brasileira? Onde ele se enquadra nesse contexto em relação aos outros partidos de esquerda?

Flores: Nós achamos que estamos no caminho certo porque a gente vê assim, vamos falar de partidos como o PSOL, que, infelizmente, tem uma visão neo reformista, eles não defendem, por exemplo, a estatização do sistema financeiro como nós propomos. Eles têm um programa reformista muito similar ao PT, inclusive isso dá espaço ou fundamenta a atitude do Boulos em relação ao Lula e a cultura petista. Eles têm laços. Nós achamos que não se pode fazer reformas, claro que lutamos por algumas, mas a nossa luta é por uma mudança das estruturas, por um processo de revolução social no Brasil. Por isso o chamado à rebelião e a revolução socialista. Nós não achamos que o processo eleitoral possa mudar a situação, nós queremos mudanças nas estruturas sociais. O que para nós importa nesse momento é mostrar pro povo que do jeito que tem sido feito até hoje nós não vamos mudar a situação da população.

Nós não fazemos coligações e alianças com partidos que não tenham esse projeto. Pra que que nós vamos defender outro programa? Nós vamos defender esse, que é o que a gente opina que seja necessário. Se a gente for fazer alianças e tiver que reduzir o discurso nós vamos estar enganado a população. E também nós coerentes com isso não aceitamos nenhum financiamento de empresários, a nossa campanha é financiada pelos próprios trabalhadores, pela militância. Veja o que aconteceu aí com os financiamentos de campanha da JBS, do banco Itaú. Quem paga a banda escolhe a música e eles escolheram a música no governo do PT, infelizmente.

Sul21: Há sindicatos se articulando para que servidores públicos não só se mobilizem, mas disputem cargos, principalmente no legislativo. O que tu, como professor da rede pública pensas a respeito? É uma articulação que pode dar resultados para a categoria?

Flores: Eu acho que sim. Os candidatos devem ser, e para nós é assim, extraídos da classe trabalhadora, principalmente da classe operária. Tanto que a Vera, por exemplo, é uma operária negra, operária do calçado. O Hertz é professor de história, negro, da periferia e um rapper. As nossas candidaturas são as candidaturas da classe operária e dos trabalhadores em geral. É importante ter as candidaturas também do serviço público. A nossa, por exemplo, uma boa parte é. Eu sou, a Ana Clélia é.

O que nós pensamos, inclusive, é que não vemos a eleição de deputados como um fim em si mesmo, para nós um deputado nosso, vereador, um senador, ele tem uma função de ser um tribuno das causas populares e dos movimentos sociais, em defesa dos trabalhadores, porta voz das lutas dos explorados, dos oprimidos. Para nós não é carreira, o salário que um deputado nosso, de alguém que tem um mandato, é um salário da sua profissão. Eu sou professor, então a parte que me cabe é do meu próprio salário. Pra nós o que tem além do salário que tu deveria receber vai para o movimento social. A presença da categoria trabalhadora nesses cargos seriam instrumentos da mudança. Porta vozes das lutas dos explorados, dos oprimidos.


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