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3 de outubro de 2017
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11:16

Mercado Público completa 148 anos com obras concluídas, mas à espera de PPCI

Por
Sul 21
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Abertura do segundo piso estava prevista para o primeiro semestre deste ano | Foto: Guilherme Santos/Sul21

Fernanda Canofre

No dia 07 de julho de 2013, Adriana Kauer, 46, fechou a banca 11, que herdou do pai, no Mercado Público de Porto Alegre, às 18h30, como costumava fazer todos os sábados. A cortina de ferro acabou emperrando e ela demorou um pouco mais para ir para casa. Uma rotina que se repetia há quase 20 anos. Assim que largou a bolsa em cima da mesa da sala, recebeu uma ligação. Uma amiga queria contar que “o Mercado estava pegando fogo”.

“No meio do caminho já fui encontrando colegas chorando, abracei as pessoas. Eu só rezava, olhava aquilo e tentava ser o mais prática possível. Queria mandar força para os bombeiros e não deixar que as pessoas tumultuassem mais ainda”, lembra ela. No dia seguinte, ela chorou. “No domingo, estava chovendo e nós tínhamos uma reunião cedo na Prefeitura. Olhei para o Mercado e vi a fuligem escorrendo para baixo, com a água. Parecia que o Mercado estava chorando. Daí, não aguentei”.

Destruição: o mercado foi atingido por três incêndios, em 1912, 1976 e 1979 l Foto: Museu de Porto Alegre

Foi o quarto incêndio ao qual o prédio inaugurado em 03 de outubro de 1869 sobreviveu. Antes de 2013, o Mercado passou por incêndios em 1912, quando teve todos os chalés que ficavam em seu interior destruídos, em 1976 e 1979. Entre eles, houve ainda a enchente de 1941 e uma ameaça de demolição, proposta pelo prefeito biônico Telmo Thompson Flores, da Arena, que desativou os bondes elétricos e construiu seis viadutos em seis anos de gestão. O Mercado foi salvo graças a protestos da população.

Um mês após o incêndio de 2013, o primeiro andar conseguiu retomar as atividades, mas o segundo piso, onde ficavam nove dos restaurantes, ainda está fechado. As obras de reconstrução, realizadas com dinheiro do seguro e do PAC Cidades Históricas, assinado ainda no governo de Dilma Rousseff (PT), foram concluídas em dezembro do ano passado. O Plano de Prevenção Contra Incêndio (PPCI) é a única coisa impedindo que o espaço volte a funcionar normalmente.

Com um custo estimado de R$ 1,5 milhão, o PPCI deveria ser pago pela Prefeitura Municipal de Porto Alegre, administradora do Mercado. O poder público, porém, alega não ter verbas. Na última quarta-feira (27), a Associação de Permissionários do Mercado buscou um acordo com a Prefeitura, mediado pela Procuradoria Geral do Município. Ficou definido que os permissionários se responsabilizam a assumir os valores do PPCI e das adequações e a Prefeitura volta a ficar responsável por ações trabalhistas de ex-funcionários do Mercado, que estavam em nome da Associação de Permissionários.

A data de reabertura foi mudada várias vezes. No aniversário do ano passado, a previsão era ter o segundo andar de volta no primeiro semestre de 2017. Agora, segundo Adriana, que faz parte da nova diretoria da Associação, o acordo firmado entre Permissionários e PGM irá para homologação junto ao Ministério Público. Depois, deve levar ainda 60 dias para que todas as adequações exigidas pelo novo PPCI,  de acordo às novas normas previstas na Lei Kiss, sejam cumpridas.

“Temos que fazer um reservatório de água, porque o anterior era menor do que a cubagem que a lei manda. Temos que readequar as escadas. Só o que está estimado até aqui já custaria em torno de R$ 1,5 milhão”, explica a comerciante. “Resolvemos assumir esses valores, cada lojista vai buscar seu próprio financiamento e pagar nós mesmos, porque vimos que seria desumano manter nossos colegas nos locais precários em que estão, com péssimas acomodações”.

Dos nove restaurantes que estavam locados no segundo piso do Mercado Público, um fechou e outro decidiu sair do local, desde o incêndio. Há quatro anos, os demais funcionam “provisoriamente” no espaço que era destinado a exposições itinerantes. O local seria muito apertado, especialmente para acomodar as cozinhas.

Para o restante das obras, relativas à parte estética do Mercado, a Secretaria de Desenvolvimento Econômico disse que irá buscar recursos junto ao PAC e ao Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Arquitetônico Nacional). “Para nós, hoje, o importante é saber que vai reabrir”, diz Adriana.

Quando criança, ela lembra de caminhar pelo Mercado, sentindo os cheiros de cada banca, junto com o pai, que vendia sacos de plástico para os comerciantes. O sonho dele era ter a própria banca um dia ali. O Mercado, porém, só dava permissão a comerciantes que vendessem algum tipo de alimento. Foi assim que a família se tornou a dona da banca de ingredientes para sorvete e confeitaria. E Adriana teve o primeiro emprego, aos 17 anos.

“Eu amo o Mercado Público. Eu costumo dizer que ele não é um prédio, é a soma de histórias das pessoas. Ele é a minha história, a tua e de cada um que passa aqui dentro”, resume.

Foto: Arquivo Público do RS

Nesta terça, o Mercado comemora 148 anos. O Largo Glênio Peres e arredores serão palco de uma série de eventos, veja:

9h – Missa Padre Gelson Gérson (da Igreja do Rosário) – Altos do Mercado
10h – Banda da Brigada – Itinerante
11h – Flashmobile – Mandala (centro do mercado)
12h – Show com Dorotéo Fagundes, Antônio Flores e Renato Fagundes – Altos do Mercado
13h – Grupo de Capoeira – Mandala (centro do mercado)
13h20 – Grupo Vocal e Instrumental Paulo Freire – Altos do Mercado
14h – Culto ecumênico das religiões – Mandala (centro do Mercado)
15h – Parabéns, bolo e chuva de balões, com acompanhamento de Diego Foschiera – Mandala (centro do Mercado)
17h – Bênção africana dos povos tradicionais da matriz africana e afro umbandistas com Xirê do Bará – Mandala (centro do Mercado)
• O vídeo será exibido ao longo de todo o dia
• Os restaurantes do Mercado Público ficarão abertos até as 22h

Confira mais fotos do Mercado pelas lentes do Sul21:

O incêndio de 2013 foi causado por um curto-circuito e destruiu parte do segundo piso | Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Comerciante em banca do Mercado | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21
Mercado a espera de obras, em 2013 | Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Cobertura do telhado começou dois anos após incêndio | Foto: Guilherme Santos/Sul21
Foto: Maia Rubim/Sul21
Foto: Maia Rubim/Sul21
Mercado Público com o segundo andar esperando por reinauguração | Foto: Maia Rubim/Sul21
Foto: Guilherme Santos/Sul21

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