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20 de janeiro de 2017
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10:52

Livro aborda as escolhas do governo Tarso diante da crise do Estado

Por
Sul 21
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Ao lado do ex-governador Tarso Genro, o jornalista Marco Weissheimer lançou, quinta-feira, o livro “Governar na Crise.” |Foto: Marco Nedeff

Da Redação

“Ele pretende ser um livro de combate nesses tempos”. Foi assim que o jornalista Marco Weissheimer definiu o propósito do livro Governar na Crise. Um olhar sobre o governo Tarso Genro – 2011/2014”, escrito por ele e lançado no final da tarde de quinta-feira (19), diante de um auditório lotado no Sindicato dos Bancários de Porto Alegre e com a presença de muitos ex-secretários da gestão Tarso e petistas históricos. A atividade faz parte da programação do Fórum Social das Resistências.

O livro questiona, entre outros aspectos, se o ato de governar pode ser resumido a uma dimensão meramente contábil, que coloca a busca do déficit zero como objetivo principal, ou se essa escolha é contraditória com o próprio conceito de governar. Um governo pode, sob o pretexto de enfrentar a crise financeira do Estado, destruir um dos pilares que define a própria função do Estado, a saber, a prestação de serviços públicos de qualidade à população?

No início da apresentação, o ex-governador Tarso (PT) ressaltou que a ideia de fazer o livro vinha “sendo germinada há algum tempo.” Depois de muito debate, contou ele, foi definido fazer “um livro político” que contemplasse diretrizes gerais do governo e também agregasse “algumas atividades” realizadas na sua gestão que “eram novidades.” “É um trabalho responsável, sério”, elogiou Tarso, sobre a obra de Weissheimer.

Hoje, segundo o ex-governador, o que acontece no Rio Grande do Sul é o oposto “do que fizemos”, sem se referir explicitamente sobre a política adotada pelo governador José Ivo Sartori (PMDB). Entre os exemplos citados por ele e que foram revogados pela gestão peemedebista estão o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, o Conselhão, e o Programa de Agricultura Camponesa, construído juntos com os movimentos sociais ligados ao campo. O Conselhão, conforme Tarso, oportunizou aos diferentes segmentos da sociedade exporem suas demandas, e o programa de agricultura beneficiou famílias pobres que não tinham acesso nem ao Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar).

Tarso afirmou que medidas tomadas pelo governo Sartori são um contraste em relação as implantadas por sua gestão no enfrentamento da crise financeira do Estado|Foto: Marco Nedeff

“Esse será um trabalho que vai se comunicar com outras experiências feitas no país”, enfatizou o ex-governador. Ainda referente às ações do seu governo e que não receberam a devida atenção da gestão Sartori, Tarso citou o programa RS Mais Igual,  voltado para a complementação e geração de renda e que beneficiou 70 mil famílias pobres do Estado. Hoje, informou ele, entre mil e duas mil famílias são contempladas pelo programa. “É um exemplo desse contraste que o livro vai apresentar”, completou o ex-governador, sobre as ações de sua gestão comparadas as do peemedebista. Na opinião dele, Sartori, apesar de não apresentar propostas para governar o Estado, já havia definido fazer o “ajuste fiscal” atendendo aos “setores mais conservadores da sociedade”, além de repassar serviços públicos à iniciativa privada.

Contribuições do Conselhão

Representante da área acadêmica no Conselhão, a professora aposentada Mercedes Cánepa lamentou o fim do órgão pelas contribuições oferecidas durante seu funcionamento. “Houve um esforço muito grande para conhecer a realidade do Rio Grande do Sul”, avaliou ela, sobre o trabalho do Conselho, que instituiu comissões temáticas. A partir dessa análise, segundo ela, foi possível implementar políticas públicas, o que é mais difícil. Ela lembrou, por exemplo, que as fundações, hoje extintas pelo governo Sartori, foram chamadas para o debate. A professora criticou, ainda, a postura da gestão peemedebista referente à situação do Estado. “A gente que participou sabe que não é isso. Umas situações são reais, outras, imaginárias”, observou Mercedes.

Antes de focar no conteúdo do livro Governar na Crise, o jornalista Marco Weissheimer fez uma referência, além de Tarso, ao ex-governador Olívio Dutra e ao ex-ministro Miguel Rossetto, presentes ao lançamento, que, de acordo com ele, “representam as melhores experiências que os governos de esquerda tiveram no Rio Grande do Sul desde o século passado.” Sobre o livro, o jornalista afirmou que foi definido que a publicação não iria abordar o governo Sartori, motivo pelo qual não há menção à gestão do peemedebista.

A obra, explicou o jornalista, rejeita a tese que pretende igualar a prática de governar um município, um estado ou um país àquela de administrar uma empresa privada ou uma família. “Há ideias que são vendidas como verdade”, observou Weissheimer. Nos dias atuais, ressaltou o autor, o título “Governar na crise” adquire “um significado mais rico” à medida que a administração Sartori “reduz os problemas financeiros do Estado ao governo anterior.” “É uma tentativa de refrescar a memória”, acrescentou ele, sobre o conteúdo do livro.

Em um trecho do livro, o autor cita parte do voto do conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE) Algir Lorenzon ao analisar as contas da gestão de Tarso, em que ele reconhece que o petista gastou mais, uma vez que investiu mais em áreas essenciais, justificando, portanto, os gastos. Também traz uma manifestação do atual secretário estadual da Fazenda, Giovani Feltes, em que reconhece que parte da situação financeira do Estado é resultado da renegociação da dívida com o governo federal, em 1998. “Esse livro não é um trabalho acadêmico, também não pretende ser um relato exaustivo”, esclareceu Weissheimer.

Derrota eleitoral é analisada

Há “caminhos diferentes”, na opinião do jornalista, para governar o Estado e enfrentar a crise, destacando iniciativas do governo Tarso como os investimentos significativos no Programa de Agricultura Camponesa, a criação dos Territórios da Paz, apesar de ser uma experiência pequena, e a constituição da Comissão Estadual da Verdade. “Com todos os seus limites e insuficiências, o governo Tarso Genro se propôs a enfrentar a crise financeira do Estado com uma receita que navega na contramão do receituário da austeridade fiscal: apostar no crescimento da economia e no fortalecimento das funções públicas do Estado como caminho para enfrentar a crise financeira e as desigualdades sociais”, avaliou o autor do livro.

Além disso, o livro analisa o fato de o governo ter sido derrotado eleitoralmente apesar das experiências exitosas implantadas. “Os indicadores são incomparavelmente melhores do que os dos governos Yeda (Crusius) e Rigotto (Germano)”, afirmou ele, sobre as administrações que antecederam Tarso. Contudo, observou ele, não foram suficientes para garantir a reeleição. Por fim, o jornalista questionou o sentido de governar de uma gestão que “destrói políticas públicas.”

O livro deverá ser lançado em outras cidades do Estado com objetivo de “reproduzir” o debate acerca dos argumentos e questionamentos trazidos à tona pela publicação. A obra custa R$ 30 e pode ser encontrado, entre outras livrarias, na Palmarinca e Saraiva.


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