Últimas Notícias > Geral > Areazero
|
25 de novembro de 2016
|
18:47

‘Não se pensa em segurança pública incluindo as mulheres, elas estão de lado, em um puxadinho’

Por
Sul 21
[email protected]
Foto: Luiza Castro/Divulgação UGEIRM
Seminário da Ugeirm acontece ao longo de toda esta sexta-feira (25) | Foto: Luiza Castro/Divulgação UGEIRM

Daiane Vivatti

Escrivãs, inspetoras, comissárias e delegadas de polícia de diversas cidades do Estado estão reunidas, nesta sexta-feira (25), Dia Internacional de Não Violência contra a Mulher, para debater a discriminação de gênero nas instituições policiais. “Vamos falar sobre nós” é o primeiro seminário da Ugeirm “Construindo a Identidade Feminina na Segurança Pública”, em parceria com o Sul21. O evento trouxe como base para a discussão pesquisas nacionais sobre a situação das mulheres nas Instituições Policiais. O estudo realizado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública ouviu 13.055 policiais entre homens e mulheres e revelou que quase 40% das policiais mulheres que responderam ao questionário – 39,2% delas – já sofreram assédio moral ou sexual no trabalho. Em 74,1% dos casos o assédio partiu de um superior hierárquico, mas apenas 11,8% das policiais registraram queixa. Segundo a diretora de gênero do sindicato e idealizadora do encontro, Neiva Carla Back Leite, a ideia do evento é que as mulheres se enxerguem: “Me deparei com a pesquisa e vi que aquilo que eu ouvia das mulheres que vinham conversar comigo no sindicato é uma realidade em todo o Brasil. Todas nós vivemos algo parecido. Então, as realidades parecem diferentes, mas quando elas são desnudadas, elas são uma só. Todas nós sofremos assédio, por mais que a gente não perceba, existe, e isso é uma coisa que não é falada, é velada”, destaca Neiva.

Foto: Luiza Castro/Divulgação UGEIRM
Mari Perusso foi uma das painelistas | Foto: Luiza Castro/Divulgação UGEIRM

No painel sobre a ‘Trajetória da Mulher na Polícia’, a diretora lembra que a discriminação chega de todas as maneiras: “quando a gente entra nessa Instituição ouve um monte de piadinhas, quem de nós não ouviu? E a gente vai deixando passar, ah, isso não tem importância! Dizer que mulher não dirige, que mulher não presta pra serviço de rua, não tem importância a piadinha que fazem sobre nós, e não sendo importante a gente não fala sobre isso, a gente não vê”.

A ascensão na carreira dentro das instituições também é uma dificuldade enfrentada pelas mulheres. A painelista Mari Perusso, secretária de Estado de Assessoramento Superior do Governo e Chefe Adjunta da Casa Civil no período de 2010 a 2014, observa que quando uma mulher ocupa um espaço público, deve ter consciência da luta feminista, buscando melhorar diariamente as condições de trabalho e respeito de outras mulheres, “porque na iniciativa privada o salário é desigual. Na área pública, não, o salário é igual, mas as Funções Gratificadas são a forma de discriminação. A promoção por tempo de serviço é igual, mas isso não acontece com a promoção por mérito”.

Neiva Back diz que algumas pessoas negam esse assédio, negam a existência de uma barreira invisível para a ascensão das mulheres, se tornarem chefes: “Eu costumo dizer que na [Polícia] Civil, mesmo que as mulheres tenham entrado em 1970, a gente é como se fosse um puxadinho, um apêndice, a gente não pertence à casa grande, ao conjunto (…) e não se pensa em segurança pública incluindo as mulheres, elas estão de lado, em um puxadinho”.

Busca pelo Direitos das Mulheres

Neiva destacou as vitórias obtidas pelas mulheres policiais nos últimos anos, como a retirada de mulheres grávidas de atividades de risco e dos plantões 24 horas, colete à prova de balas adequado, reflexão de gênero na escrita dos cargos policiais (denominação de escrivã e inspetora não existia), além da aposentadoria especial. A conquista da redução de 5 anos no tempo de trabalho em relação aos homens veio com a aprovação da lei complementar 144/14, de 15 de maio de 2014, e consequente sanção da presidenta Dilma Rousseff. A diretora lembra que o êxito veio acompanhado de críticas: “Fomos atacadas na nossa aposentadoria, enquanto os homens se aposentavam com um redutor de 5 anos, isso era normal, e dentro das delegacias a gente ouvia de alguns dos nossos colegas: ‘Vocês não querem direitos iguais? Então vocês vão se aposentar igual a todo mundo'”.

No entanto, a reforma da Previdência que será enviada pelo governo federal ao Congresso pode retirar esse direito, o que para Mari Perusso é mais um tipo de violência de gênero: “Nós estamos próximas ao acometimento que uma grande violência institucional contra as mulheres, que é o aumento da idade da aposentadoria e o fim da aposentadoria especial, isso é uma violência enorme (…) não são todas as categorias, são as professoras, são as mulheres da segurança, são categorias especiais que conseguiram esse direito, então como nós vamos entender que um direito conquistado, possa ser tirado, além do aumento da idade da aposentadoria”. O presidente da Ugeirm, Isaac Ortiz, enfatizou que “a conquista, muitas vezes, pode ser árdua, mas a manutenção das conquistas é mais difícil ainda” e pediu que as mulheres da polícia lutem pela defesa dos seus direitos.

Foto: Luiza Castro/Divulgação UGEIRM
Foto: Luiza Castro/Divulgação UGEIRM

Seminário

Além do presidente do sindicato, também participaram da abertura do evento o subchefe da Polícia Civil, delegado Leonel Carivali, a presidente da Asdep, delegada Nadine Anflor e a procuradora especial da mulher da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, Deputada Stela Farias (PT). O seminário acontece na Fetrafi – R. Cel. Fernando Machado, 820 – e encerra às 18h.


Leia também
Compartilhe:  
Assine o sul21
Democracia, diversidade e direitos: invista na produção de reportagens especiais, fotos, vídeos e podcast.
Assine agora