Areazero
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29 de agosto de 2016
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01:30

Luciana, Melo e Raul debatem propostas para a cidade em roda de conversa

Por
Sul 21
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| Foto: Guilherme Santos/Sul21
Evento que reúne gastronomia e arte aconteceu na Praça Garibaldi | Foto: Guilherme Santos/Sul21

Débora Fogliatto

Três dos principais candidatos à Prefeitura de Porto Alegre participaram, neste domingo (28), de uma roda de conversa na feira cultural de rua Me Gusta, na Praça Garibaldi. O evento, que acontece mensalmente, reúne arte, gastronomia e variedades, sempre em espaços públicos da cidade, mas essa foi a primeira vez que promoveu um debate político. Na situação, Luciana Genro (PSOL), Raul Pont (PT) e Sebastião Melo (PMDB) falaram de suas propostas para assuntos como segurança, mobilidade e meio ambiente.

Como não poderia deixar de ser, pelo cunho do evento promovido pela Revista J’Adore, o primeiro questionamento foi sobre a utilização dos espaços públicos. Os três candidatos foram aplaudidos ou criticados em determinados momentos pelo público, além de se alfinetarem entre si, o que fazia com que a mediadora, a organizadora Pâmela Morrison, precisasse intervir e lembrar que o debate deveria ter um clima de respeito e tranquilidade.

Para o atual vice-prefeito Sebastião Melo, os espaços públicos devem ser utilizados de forma consensual pelas diversas partes interessadas: o morador do entorno, a pessoa que frequenta o espaço, os comerciantes, os passantes. “A cidade que me agrada é a que vejo agora aqui, com convivência, e que no final todos recolham seu lixo, não deixem o espaço sujo, e com isso a segurança pública também melhore”, afirmou.

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Melo falou da necessidade de consenso para a utilização de espaços públicos | Foto: Guilherme Santos/Sul21

Luciana Genro defendeu que a ocupação dos espaços públicos é “fundamental para uma cidade mais democrática e participativa”, tendo o cuidado com a segurança e limpeza. “Precisamos fomentar a cultura, que é fundamental nesse sentido, levando para a periferia a cultura da região central, e trazendo a cultura da Restinga, do Rubem Berta, para o Centro, com o fomento da Prefeitura”, apontou a candidata do PSOL.

O ex-prefeito Raul Pont definiu que “nada define melhor a coisa pública do que a praça”. “Em tempos de intolerância e preconceito, nada melhor do que a praça para discutir, conviver com as diferenças”, apontou. Assim como Luciana, também falou da importância de haver incentivo e parcerias da Prefeitura para a utilização desses espaços.

Mobilidade urbana

O segundo tema foi mobilidade urbana, e Luciana começou falando sobre a proposta de restringir a circulação de carros em certas áreas do Centro Histórico. Isso, aliado a melhorias no transporte coletivo, faria com que mais pessoas optassem por utilizar o ônibus para se locomover na cidade, desafogando o trânsito. “Além disso, o Plano Diretor Cicloviário determina que haja 500km de ciclovias na cidade, e não chegamos nem a 50. Temos que investir em diferentes modais, inclusive o hidroviário, utilizando a nossa orla e o Guaíba”, defendeu.

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Luciana falou da importância de investimentos em outros modais de transporte | Foto: Guilherme Santos/Sul21

Raul Pont apontou que Porto Alegre é a grande cidade brasileira que menos cresce do ponto de vista demográfico e enfatizou a necessidade de se dar maior prioridade ao pedestre e ao transporte coletivo. “Deveríamos ter toda a frota de ônibus com ar condicionado e com acessibilidade plena”, afirmou, também mencionando que em partes do Centro Histórico deve haver preferência para pedestres, bicicletas e transporte coletivo.

Para Melo, o Brasil em geral, nos últimos anos, cometeu erros ao priorizar apenas o carro. Ele cutucou Raul ao dizer que durante as administrações petistas não foi feita licitação do transporte público, e respondeu à Luciana sobre as ciclovias afirmando que “40km é pouco, mas tinha zero” na cidade, subindo o tom na hora de falar, o que provocou certo alvoroço por parte do público. O vice-prefeito também destacou o fechamento da avenida Beira-rio e da Terceira Perimetral nos fins de semana, implantados pela atual gestão.

Segurança pública

Os três candidatos defenderam propostas parecidas em relação ao papel da Prefeitura na segurança pública, falando do aumento do papel da Guarda Municipal e da importância da iluminação, mas lembrando que isso é prerrogativa principal do governo do Estado. “Temos que conferir oportunidades para jovens das periferias, que são as vítimas do tráfico, com espaços públicos e parques para eles aproveitarem”, afirmou Raul Pont. Melo propôs que a Guarda Municipal seja treinada para utilizar armas e tecnologias. “A questão social tem que ser colocada: emprego é segurança, educação é segurança, e a Prefeitura deve agir nessas áreas”, mencionou.

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Pont defendeu a necessidade de programas para jovens das periferias | Foto: Guilherme Santos/Sul21

Mais enfática em sua crítica, Luciana disse que “[o governador] Sartori está destruindo a segurança pública”, criticando o sucateamento das polícias. A fala provocou nova polêmica entre o público, que se dividiu entre aplausos e vaias. A candidata disse que “não trouxe claque”, referindo-se aos apoiadores que acompanharam Melo e emendou: “Melo é o Sartori amanhã”, novamente causando reações por parte do público. Ela também defendeu a integração da Guarda Municipal com as comunidades e a ampliação do papel da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC).

Mulheres e população LGBT

Questionado sobre propostas para mulheres e a população de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais (LGBT), Melo inicialmente continuou falando do assunto anterior, afirmando que o governo de Tarso Genro (PT) teria “entregado” o Estado com problemas econômicos para Sartori, destacando que o ex-governador é pai de Luciana — mesmo os dois não sendo do mesmo partido.

Em seguida, Melo lembrou que a atual administração criou a Secretaria Municipal de Direitos Humanos, com adjuntas de Mulheres, Indígenas e Livre Orientação Sexual. Raul, sem abordar a polêmica da pergunta anterior, mencionou que o Brasil é um país “com raízes patriarcais, machistas e preconceituosas” e, por isso, disse ser preciso criar condições para que haja igualdade de gênero.

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Evento contou com momentos de polêmicas e críticas aos candidatos | Foto: Guilherme Santos/Sul21

Luciana abordou o assunto já respondendo a Melo, ao começar sua fala lembrando que “mulheres têm autonomia, assim como filhas têm autonomia dos seus pais” e destacando que é preciso “respeitar as mulheres e as posições em que elas estão”. “O machismo é uma realidade presente na nossa sociedade e a educação é muito importante nesse sentido. Precisamos combater o machismo, racismo, LGBTfobia nas escolas”, afirmou.

Meio ambiente 

Questionado sobre propostas para o meio ambiente, Raul criticou a venda de espaços da orla do Guaíba para especuladores imobiliários. “Não pode um especulador comprar uma parte da Orla e depois o governo mudar o regime urbanístico da cidade para o favorecer, como aconteceu em Belém Novo”, afirmou. Luciana Genro citou, também como exemplo disso, o Cais Mauá, onde há “conflito entre a especulação e o meio ambiente”. Já Melo preferiu mencionar o índice de tratamento de esgoto, que está em cerca de 70%, e defender o empreendedorismo: “dá para ter sustentabilidade com desenvolvimento, o empreendedorismo é a alma das cidades que dão certo”, disse.

Alfinetadas 

Ao longo das falas, em diversos momentos a mediadora Pâmela precisou interromper os candidatos para pedir que o público se acalmasse, devido às críticas ou palmas que se podia ouvir da plateia. Ela destacou que essa era a primeira vez que o Me Gusta realizava um debate com esse formato e que a proposta era de diálogo pacífico. Em certo momento, o público puxou um “fora, Temer!” e, no final, apoiadores de cada candidato saíram entoando seus nomes.

| Foto: Guilherme Santos/Sul21
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