Areazero
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17 de agosto de 2016
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11:08

‘A prioridade não é o Moinhos de Vento, é a Ilha Grande dos Marinheiros’

Por
Luís Gomes
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10/08/2016 - PORTO ALEGRE, RS - Entrevista com o candidato a vice-prefeito pelo Psol. Pedro Ruas. Foto: Maia Rubim/Sul21
Pedro Ruas é o candidato do PSOL a vice-prefeito de Porto Alegre | Foto: Maia Rubim/Sul21

O Sul21 publica, a partir desta quarta-feira (17), os perfis dos candidatos a vice-prefeito e vice-prefeita de Porto Alegre. Confira aqui o perfil de Silvana Conti e aqui com Juliana Brizola

Luís Eduardo Gomes

Brizolista. É assim que Pedro Ruas se define. “Sempre acreditei que o Brizola era a possibilidade da revolução permanente. O Brizola podia mudar tudo”.

Vice-candidato à Prefeitura de Porto Alegre na chapa de Luciana Genro (PSOL), Ruas diz que o começo de seu interesse pela política, ainda nos anos 1960, como estudante do Colégio Julio de Castilhos, veio pelo apoio familiar ao então governador e ex-prefeito, Leonel de Moura Brizola. “Na definição do meu pai, o jornalista Isnar Ruas, o Brizola era ‘o canhão do povo’. Isso para mim é tudo”.

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Em 1975, aos 19 anos, cursando Direito na PUCRS, Ruas se filiou ao MDB Jovem, à época única alternativa possível para jovens de esquerda. “As cassações, torturas, prisões e mortes me tocavam muito”, explica Ruas sobre sua motivação para entrar na política. “Isso justifica boa parte da minha vida ser voltada à memória e à justiça, como no Comitê Carlos de Ré”.

10/08/2016 - PORTO ALEGRE, RS - Pedro Ruas e Leonel Brizola no Aeroporto de Brasília. Foto: Arquivo pessoal
Foto ao lado de Brizola, no final dos anos 1980, está em quadro pendurado no gabinete de Ruas | Foto: Arquivo pessoal

A aproximação com Brizola viria em 1979, quando o “comandante” retornou do exílio e fundou o PTB. Ruas se tornou membro fundador do partido. Quando Brizola perdeu na Justiça o direito ao partido para a herdeira de Getúlio Vargas e então deputada, Ivete Vargas, Ruas seguiu Brizola e tornou-se membro fundador também do PDT. “Tive a honra de merecer a confiança do Brizola e ficamos muito amigos. Durante anos eu falava com ele diariamente”, conta Ruas.

Após formar-se em Direito, Ruas seguiu para a área da advocacia trabalhista. Sua primeira tentativa nas urnas ocorreu em 1982, quando ficou como suplente de vereador do PDT. Quando Alceu Collares (PDT) foi eleito prefeito, em 1985, ele convocou vereadores para seu secretariado – os legisladores municipais da época tinham mandatos de seis anos -, e Ruas então assumiu uma cadeira na Câmara de Vereadores da Capital.

Ruas permaneceria no PDT por 23 anos – ocupando cargos na administração municipal e estadual – até o dia 21 de junho de 2004. “Para mim, morreu Brizola, morreu tudo. Aí não tinha mais nada”.

A chegada ao PSOL

Com a morte de seu amigo e herói político, Ruas, então sem mandato e cargo político, decidiu por um “afastamento atento” da vida pública. “Só que aí surge o PSOL. Eu conhecia a Luciana, mas superficialmente”, diz, salientando que o contato entre os dois era por meio do ex-governador Tarso Genro (PT), pai de Luciana, também advogado trabalhista e com quem se encontrava no meio jurídico.

Ruas conta que, em certo dia de 2004, estava caminhando na Rua dos Andradas com seu filho mais novo, quando encontrou Luciana Genro e Roberto Robaina falando com populares na Esquina Democrática. “Tinha até poucas pessoas – como em muitas vezes depois, quando eu falei pelo PSOL ali. Eu fiquei ouvindo. Depois eles vieram falar comigo”.

Afastado, mas atento, Ruas diz que passou a ver no PSOL uma opção de partido socialista, de confronto e que mostrava um desapego ao poder. “Podiam ter ficado no PT, mas desobedeceram (refere-se ao fato dos fundadores do PSOL terem sido expulsos da antiga legenda). E isso, para mim, foi vital, a desobediência é uma marca brizolista. Isso eu achava e acho até hoje extraordinário”.

10/08/2016 - PORTO ALEGRE, RS - Entrevista com o candidato a vice-prefeito pelo Psol. Pedro Ruas. Foto: Maia Rubim/Sul21
Ruas conversou com o Sul21 em seu gabinete | Foto: Maia Rubim/Sul21

Ruas orgulha-se do desapego ao poder e conta que, em 2000, quando era secretário estadual no então governo Olívio Dutra (PT), foi o único dos cinco pedetistas que atuava naquela gestão a entregar o cargo quando Brizola rompeu com o PT. Entre os que permaneceram, a presidenta eleita Dilma Rousseff e Sereno Chaise, brizolista histórico. “Todos trocaram de partido para ficar nos cargos. E eu voltei. Com muito pesar até, porque eu gostava muito do Olívio. Mas a minha palavra foi dada ao doutor Brizola de que em hipótese de rompimento devolveríamos os cargos e voltaríamos”, conta Ruas. “Imagina se eu ia romper minha palavra com o Brizola? Jamais. Maior orgulho meu era ser seguidor e amigo do Brizola”.

Após aquele encontro na Esquina Democrática, Ruas então iniciou seu processo de filiação ao PSOL. “No fim, me torno fundador de dois partidos. Aliás, presidi os dois estadualmente”. Para Ruas, o período de PTB “não existiu”.

Pelo PSOL, Ruas foi eleito vereador de Porto Alegre em 2008. Repetiu a dose em 2012, quando foi o candidato mais votado. Dois anos depois, se elegeu o primeiro deputado estadual do partido no RS.

Na definição de Ruas, o PSOL “é uma síntese das melhores lutas do povo brasileiro”. “Tu tens os socialistas do viés brizolistas, onde me incluo, comunistas, lutadores sociais, pessoas que na maior parte vieram do PT, mas do PCdoB, PSTU, PDT, PSB. É essa síntese que representa os interesses do povo. Não faz alianças para chegar ao poder, não aceita cargos. Quem é socialista, quem quer mudar a sociedade do ponto de vista de dar oportunidade para todos, tem que militar no PSOL. Esse é o meu conceito”, diz.

A disputa pela Prefeitura

“Ninguém está imaginando que tu vai fazer uma revolução socialista a partir de Porto Alegre, não é isso. Agora, pode ser uma cidade paradigma”, diz Ruas.

Para o deputado, Porto Alegre, ao longo do tempo, foi exemplo para o resto do país de luta social. Como feitos originados na cidade, cita a campanha da Legalidade, em 1961; a reintegração de vereadores cassados pela ditadura em 1969 – “única cidade entre 6 mil no Brasil”, diz; o Fórum Social Mundial; o Orçamento Participativo. “E, para orgulho nosso, em 2013, a primeira cidade que reduziu o preço das tarifas de ônibus”, diz ele, sobre ação de sua autoria.

Luciana foi anunciada por Pedro Ruas, seu vice caso não feche aliança com a Rede| Foto: Guilherme Santos/Sul21
Luciana e Ruas no lançamento da candidatura do PSOL | Foto: Guilherme Santos/Sul21

Caso a chapa com Luciana seja eleita, ele diz que uma das prioridades será transformar a Capital em cidade-paradigma de enfrentamento das mazelas sociais. “Do orçamento de uma cidade, uma parte tem que ter posição ideológica. É preciso fazer escolhas. Quanto mais apertado o orçamento, mais ideológica é a decisão do governante, do gestor. Porto Alegre tem um déficit habitacional brutal, é uma vergonha. Temos que ser um exemplo do inverso”, diz. “Uma cidade voltada para o social tem que ter questões de segurança, saúde, educação e moradia. As pessoas têm que ter onde morar”.

Ele considera essencial que a cidade discuta a falta de moradia sob questão da regularização fundiária e que leve os equipamentos públicos para onde as populações estejam. “Qual é o grande programa brasileiro de habitação que funciona? O único que realmente funciona na prática, não tem nada de Minha Casa, Minha Vida? São as ocupações urbanas. Isso é o que dá moradia. Esse funcionou e esse foi gratuito”, diz. “Eu conheço várias regiões da cidade com esgoto a céu aberto. Essa é a prioridade. A prioridade não é o bairro Moinhos de Vento, é a Ilha Grande dos Marinheiros, a Ilha das Flores, o Cascata, a Bom Jesus…”, diz.

10/08/2016 - PORTO ALEGRE, RS - Entrevista com o candidato a vice-prefeito pelo Psol. Pedro Ruas. Foto: Maia Rubim/Sul21
Foto: Maia Rubim/Sul21

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