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10 de junho de 2016
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10:09

Em novo ato, estudantes rechaçam propostas do governo e prometem continuar ocupando escolas

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Sul 21
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Foto: Guilherme Santos/Sul21
Ato reuniu centenas de estudantes, com apoio de pais e professores | Foto: Guilherme Santos/Sul21

Débora Fogliatto

“Não é baderna, nem invasão, ‘tamo’ ocupando pela educação” foi uma das músicas entoadas pelas centenas de secundaristas que marcharam por ruas do Centro de Porto Alegre nesta quinta-feira (9). Em ritmo frenético contrastando com a baixa temperatura registrada na capital gaúcha, estudantes de pelo menos dez escolas reuniram-se na Esquina Democrática a partir das 17h e, pouco mais de uma hora depois, saíram em caminhada, sempre criticando o  governo estadual e o governador José Ivo Sartori (PMDB).

No carro de som, estudantes de diversas escolas se revezavam para falar, muitos deles criticando a carta de propostas entregue pelo governo no início da semana. “Não vamos desocupar só porque o Sartori quer, vamos continuar até quando for preciso”, afirmou uma estudante da escola República Argentina. “A gente nunca viu tanta vida na nossa escola, e aqui fora também. Esse documento não nos dá garantias”, disse um aluno do Instituto de Educação.

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Foto: Guilherme Santos/Sul21
Estudantes picharam sede da Umespa e criticaram entidade | Foto: Guilherme Santos/Sul21

A marcha iniciada às 18h15 foi pela avenida Salgado Filho até a rua André da Rocha, onde estudantes vaiaram e picharam a sede da União Metropolitana dos Estudantes Secundários de Porto Alegre (Umespa), chamada de “pelega” e “governista”. Animados, os estudantes entoavam, durante a caminhada, “ocupar e resistir”, “não tem arrego, você tira minha escola e eu tiro seu sossego” e “mãe, pai, tô na ocupação, só pra tu saber eu luto pela educação”. Alguns professores, pais e apoiadores também participaram da manifestação.

Seguindo pela Fernando Machado, o ato retornou para a avenida Borges de Medeiros, de onde dobrou na Jerônimo Coelho. Ali, houve um tumulto quando, segundo relatos, um jovem que participava da caminhada tentou agredir uma menina que fazia a segurança do carro de som. Outros estudantes partiram em defesa dela, xingando e empurrando o que a teria agredido. Gritando “sem violência”, a maior parte dos que participavam da marcha criticaram a atitude.

De forma organizada, os estudantes haviam formado uma comissão de segurança, que era quem informava para onde estavam indo, impedia os carros de avançarem e era responsável por lidar com situações de brigas ou agressões. Identificados por uma faixa azul amarrada no braço, eles corriam entre as duas pontas do ato para fazer o bloqueio das vias. Entre a população que estava nas ruas por onde o ato passava, percebia-se que alguns tinham reações fortemente contrárias, chegando a chamar os jovens de “vagabundos”, mas outros buzinavam e aplaudiam em apoio.

Foto: Guilherme Santos/Sul21
Marcha percorreu ruas do centro de Porto Alegre | Foto: Guilherme Santos/Sul21

Se em alguns momentos os secundaristas demonstraram organização e maturidade surpreendente para adolescentes na faixa dos 15 aos 18 anos, em outros ficava perceptível sua juventude. Quando estavam chegando em frente ao Palácio Piratini, muitos ficaram alarmados com a presença da Tropa de Choque da Brigada Militar, posicionada ao lado do prédio, enquanto outros acenderam sinalizadores e subiram nas grades que isolavam o local.

Chegando ao Palácio, os estudantes queimaram um boneco representando o governador José Ivo Sartori e cópias da carta entregue pela Secretaria da Educação, enquanto uma menina entoava no microfone: “esse documento é vago e sem propostas concretas. Assim como na sua campanha eleitoral, Sartori mostra que não tem planejamento”. Houve um breve momento de tensão quando a Brigada Militar se colocou em frente ao Piratini e alguns estudantes disseram que eles também bloqueavam a rua Duque de Caxias, para onde o ato pretendia seguir.

Após alguns instantes em que houve indecisão sobre para qual lado seguir, veio a notícia de que a polícia havia liberado a Duque, e os secundaristas seguiram por lá até a rua General Auto, onde passaram em frente à escola Paula Soares, integrante do grupo de escolas ocupadas independentes, que convocou o ato. Rapidamente, eles desceram a lomba onde o colégio está localizado pulando e cantando e chegaram à rua Washington Luiz.

Foto: Guilherme Santos/Sul21
Estudantes queimaram boneco de Sartori e cópias das propostas do governo | Foto: Guilherme Santos/Sul21

No início, a manifestação foi acompanhada pela Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), que ajudava a fazer o bloqueio das vias. Mas depois de passar pelo Piratini os estudantes precisaram parar os carros e ônibus por si próprios. Contornando o Largo dos Açorianos, eles cruzaram a avenida Loureiro da Silva e encerraram o ato no Largo Zumbi dos Palmares, com agradecimentos e aplausos.

Propostas

No primeiro ato público de estudantes, na segunda-feira (6), eles foram até a Secretaria de Educação (Seduc), mas não foram recebidos. Em tentativa de causar a desocupação das mais de 100 escolas ocupadas no Estado, a Secretaria então encaminhou propostas de ações nesta terça-feira (7). No dia seguinte, em uma reunião de conciliação, os secundaristas apresentaram uma contraproposta, pedindo respostas mais concretas e a retirada do projeto de lei que permitiria que parte da administração das escolas seja feita por organizações sociais, assim como posição oficial do governo contra o projeto “Escola Sem Partido”.

Neste sábado (11), completa um mês que a Escola Coronel Emílio Massot  foi ocupada, dando início a uma onda de ocupações que se intensificou no final de semana e tomou conta de centenas de escolas na capital e no interior.

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09/06/2016 - PORTO ALEGRE, RS - Segundo ato dos estudantes das escolas ocupadas. Foto: Guilherme Santos/Sul21
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09/06/2016 - PORTO ALEGRE, RS - Segundo ato dos estudantes das escolas ocupadas. Foto: Guilherme Santos/Sul21
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09/06/2016 - PORTO ALEGRE, RS - Segundo ato dos estudantes das escolas ocupadas. Foto: Guilherme Santos/Sul21
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09/06/2016 - PORTO ALEGRE, RS - Segundo ato dos estudantes das escolas ocupadas. Foto: Guilherme Santos/Sul21
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