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18 de maio de 2016
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19:44

Ocupações de estudantes se espalham pelo Estado e já superam 70 escolas

Por
Luís Gomes
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escola Cecy Passo Fundo
Escola Cecy Leite Costa, de Passo Fundo | Foto: Divulgação

Luís Eduardo Gomes

O movimento estudantil que ocupa escolas da rede estadual tem se espalhado rapidamente por instituições de ensino no Estado. Segundo a página Ocupa Tudo RS, ao menos 76 escolas estão ou já foram ocupados por seus estudantes. Com pautas que unificam reivindicações por melhorias físicas nas escolas com a busca por melhores condições de ensino e de trabalho para os professores, as ocupações têm crescido rapidamente nos últimos dias. Na segunda-feira, o movimento ainda não atingia nem 10 instituições. Algumas escolas, inclusive, já tiveram até encerrada a ocupação porque os estudantes consideraram seus objetivos atingidos. Na Frei Caneca, de Guaporé, por exemplo, foi encerrada nesta terça-feira (17). Em outras, está apenas começando.

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A ocupação na escola Nossa Senhora da Assunção, em Caçapava do Sul, começou na última terça-feira (17), em uma assembleia que contou com a participação de 102 alunos – 89 deles foram favoráveis à ocupação. “Na escola, hoje o maior problema é a infraestrutura. Tem infiltrações, janelas que não fecham, também tem a questão dos banheiros que estão em estado deplorável”, explica Maria Alcina Alves, 20 anos, estudante do 3º ano do Ensino Médio e presidente do grêmio estudantil.

Os alunos também reclamam que há falta de manutenção e dizem que uma empresa até chegou a ser contratada para realizar obras, mas as abandonou antes do término, deixando novos problemas estruturais. “Também tem a questão de que a gente luta a favor dos professores. A gente não aceita o parcelamento dos salários”.

Estudantes fazem assembleia na escola Nossa Senhora da Assunção, em Caçapava do Sul | Foto: Divulgação
Estudantes fazem assembleia na escola Nossa Senhora da Assunção, em Caçapava do Sul | Foto: Divulgação

Maria Alcina disse que os alunos da Nossa Senhora da Assunção já pensavam em realizar protestos contra as condições precárias da escola, mas que a opção pela ocupação surgiu a partir do exemplo vindo de outras cidades. “A gente pensava em fazer um ato mais forte para reivindicar as nossas necessidades e também apoiar os professores. Porém, como Caçapava é uma cidade muito pequena, ficava só em Caçapava. Como a gente ficou emocionado com a juventude se levantando, decidimos nos levantar também”, diz. “A nossa luta é pela nossa escola, por Caçapava, mas também é pela educação em geral”, complementa.

A mobilização na escola Silva Gama, de Rio Grande, começou já na última sexta-feira (13) em razão da deflagração da greve dos professores estaduais. No sábado, foi organizada uma assembleia de estudantes, com cerca de 50 alunos, e, desde segunda, eles passaram a ocupar a escola em tempo integral. “A nossa reivindicação é que o nosso ensino não seja sucateado, as nossas condições não sejam tão precárias e tenham a estrutura necessária”, diz Nathali Lemos, 16 anos, estudante do 2º ano do Ensino Médio.

Com uma estrutura já mais organizada, a Silva Gama conta com um cronograma de atividades que vai das 9h30 até as 14h diariamente. São realizadas rodas de conversa, grupo de estudos, palestras e outras atividades. Um dos eventos foi uma palestra de um professor da Unipampa sobre movimentos sociais, relata Nathali.

Alunos fazem o almoço na escola ocupada Silva Gama, em Rio Grande | Foto: Divulgação
Alunos fazem o almoço na escola ocupada Silva Gama, em Rio Grande | Foto: Divulgação

Apoio de pais e mestres

Apesar de aparentemente ser um movimento coordenado entre os estudantes de diferentes escolas, as ocupações têm surgido de maneira orgânica. Mais na base da inspiração do que da articulação. Por isso, algumas são apoiadas por pais e professores, enquanto em outras os adolescentes já enfrentam resistência dos adultos.

Segundo Maria Alcina, os alunos não conseguiram dormir na Nossa Senhora da Assunção na noite de terça-feira (17) porque a direção não permitiu que eles ficassem com as chaves da escola.

Já na escola Cecy Leite Costa, de Passo Fundo, a ocupação é apoiada pela direção, pais e professores. “Aqui eles têm apoio do círculo de pais e mestres. Professores, pais e os próprios alunos se uniram na questão de buscar os mantimentos”, afirma a professora Marlei Biondo, vice-diretora do turno da tarde.

Cronograma de atividades da escola Silva Gama durante a ocupação | Foto: Divulgação
Cronograma de atividades da escola Silva Gama durante a ocupação | Foto: Divulgação

Ela afirma que, entre os principais problemas da escola apontados pelos alunos estão a falta de um ginásio esportivo coberto e a falta de um refeitório, o que dificulta, inclusive, o fornecimento de merenda, uma vez que, por não haver onde prepará-los, todos os alimentos oferecidos chegam à escola já processados. Além da qualidade questionável, por exemplo, de um leite achocolatado de caixinhas, a necessidade de comprar os produtos prontos também aumenta os custos. “Às vezes tu têm o suco e não tem o pão, ou tem o pão e não tem o suco”, diz.

Betânia Rotta De Camargo, 16 anos, estudante do 1º ano, explica que a ocupação na escola Cecy começou terça pela manhã, com cerca de 12 a 15 alunos participando do acampamento – a escola está em greve. Desde então, está sendo organizado um cronograma, que contará com atividades como oficinas e até aulas extras ministradas por professores grevistas.

Além dos problemas físicos da escola, ela diz que o movimento estudantil reclama de atrasos nas verbas de manutenção e merenda para a escola, do parcelamento de salários dos professores, da falta de docentes para algumas disciplinas, da falta de um profissional responsável pela orientação pedagógica, entre outros problemas. “Estamos aqui acampados, enfrentando o frio, e não vamos sair até que sejam tomadas providências”, promete Betânia.

Porto Alegre

Na Capital, onde o movimento estudantil começou na quarta-feira passada (11), pela Emilio Massot, já são ao menos 23 escolas ocupadas por alunos, segundo a página Ocupa Tudo RS. Nesta quarta, o tradicional Instituto de Educação, localizado na Osvaldo Aranha, foi ocupado.


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