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14 de abril de 2016
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10:51

‘Novo fascismo que surge no Brasil não é disfarçado, mas explícito’, diz Manuela

Por
Sul 21
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Aula pública sobre o avanço do ódio e do fascismo na sociedade brasileira reuniu a deputada Manuela D'Ávila (PCdoB) e a escritora e professora de Filosofia, Márcia Tiburi, no Acampamento da Legalidade, na Praça da Matriz. (Foto: Guilherme Santos/Sul21)
Aula pública sobre o avanço do ódio e do fascismo na sociedade brasileira reuniu a deputada Manuela D’Ávila (PCdoB) e a escritora e professora de Filosofia, Márcia Tiburi, no Acampamento da Legalidade, na Praça da Matriz. (Foto: Guilherme Santos/Sul21)

Marco Weissheimer

A deputada estadual Manuela D’Ávila (PCdoB) defendeu nesta quarta-feira (13) que o novo fascismo que está surgindo no Brasil não é um fascismo disfarçado, mas sim explícito, com práticas similares àquelas que marcaram o surgimento do nazismo e do fascismo na Europa, no início do século XX. A deputada participou, juntamente com a escritora e professora de Filosofia Márcia Tiburi, de uma aula pública sobre o avanço do ódio e do fascismo na sociedade brasileira, realizada no Acampamento da Legalidade instalado na Praça da Matriz. Manuela D’Ávila decidiu não deixar mais passar em branco as agressões feitas contra ela em redes sociais. Antes da aula pública desta quarta, ela registrou, em uma delegacia de Polícia de Porto Alegre, mais de trinta ocorrências de crimes virtuais. E promete fazer isso com todos os casos de ameaças e agressões que sofrer. Os casos já somam algumas dezenas.

Para a parlamentar, o caso da ex-secretária estadual de Políticas para Mulheres, Ariane Leitão, que teve negado por parte de uma médica o atendimento ao filho Francisco, de um ano de idade, pelo fato de ela “ser petista”, é um exemplo claro que não cabe falar em “fascismo disfarçado” para descrever o que está acontecendo hoje no país. Manuela convidou o público a fazer um exercício e substituir a expressão “ser petista” por “ser judeu” ou “ser negro”. Este episódio, afirmou, “diz muito sobre o que estamos vivendo agora. Há setores da esquerda profundamente equivocados que acham que essas agressões e demonstrações de intolerância limitam-se a petistas. Elas são dirigidas, na verdade, a toda esquerda de um modo geral”.

“A nossa reação a essas agressões”, acrescentou, “tem sido inversa ao que eles propõem”. “Nós defendemos mais democracias e mais direitos, para todos. Quando dizemos que todas as pessoas devem ter sua dignidade física respeitada, estamos dizendo algo completamente diferente do que eles dizem. Nós não transformamos o outro em um objeto destituído de direitos e de dignidade”.

A próxima segunda-feira, disse ainda Manuela, independentemente do resultado da votação do impeachment no domingo, colocará uma questão para todos: e agora? “Estamos enfrentando uma luta muito prolongada e desgastante. Conseguimos aglutinar o nosso campo, algo que há muito tempo não conseguíamos fazer. Essa unidade é algo muito valioso que devemos manter para conseguir construir tudo que falta ainda no país. Na escada das transformações, nós subimos o primeiro degrau. Foi só o primeiro degrau, mas já é algo muito valioso que deve ser preservado. Neste domingo, tenho confiança de que venceremos uma batalha desta luta”, disse a deputada.

Márcia Tiburi: os parlamentares envolvidos em casos de corrupção que querem derrubar a presidenta Dilma Rousseff são “pessoas com lacunas cognitivas e afetivas bem sérias”. (Foto: Guilherme Santos/Sul21)
Márcia Tiburi: os parlamentares envolvidos em casos de corrupção que querem derrubar a presidenta Dilma Rousseff são “pessoas com lacunas cognitivas e afetivas bem sérias”. (Foto: Guilherme Santos/Sul21)

Autora do livro “Como conversar com um fascista”, Márcia Tiburi falou sobre a dificuldade (ou mesmo impossibilidade) de ter tal conversa, uma vez que um fascista nunca acha que alguém diferente dele está falando algo interessante. “O fascista não entende a ironia nem reconhece a inteligência do outro”. A burrice que esse tipo de postura gera, acrescentou, não é só um problema cognitivo, mas também ético. Para a escritora, os parlamentares envolvidos em casos de corrupção que querem agora derrubar a presidenta Dilma Rousseff são “pessoas com lacunas cognitivas e afetivas bem sérias”. Mas os verdadeiros canalhas, ressaltou, aprendem a usar a sua burrice contra o povo.

Márcia Tiburi chamou a atenção para dois usos distintos da palavra “democracia” na atual conjuntura brasileira. “Nem todo mundo usa essa palavra do mesmo jeito. Há um sentido de democracia que está expresso no que estamos fazendo aqui, nos encontrando e conversando em praça pública. Aqui, a democracia é algo que anima as nossas lutas e as nossas vidas. Mas há outro uso dela também que é este empregado pelos defensores do impeachment da presidenta Dilma. A palavra ‘democracia’ pode sair, portanto, das bocas mais sujas, o que representa a destruição da própria política”.

Outra expressão de degeneração das palavras, disse ainda Márcia Tiburi, aparece nos discursos de ódio que lotam hoje as redes sociais. “O empobrecimento do pensamento e da linguagem atingiu um nível assustador”, assinalou. Essa degradação de sentidos, porém, destacou, deve ser entendida no contexto do modo de vida construído pelo sistema capitalista que privilegia acordos das pessoas com coisas e objetos em detrimento de acordos entre as próprias pessoas. Independentemente do que vai acontecer no domingo, concluiu, “devemos fortalecer os movimentos sociais e precisamos ocupar os partidos, o governo e o Legislativo para construirmos outro tipo de Política”.


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