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9 de abril de 2016
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12:30

Após anos de impasse, Centro Cenotécnico fecha as portas para duplicação da Voluntários da Pátria

Por
Luís Gomes
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07/04/2016 - PORTO ALEGRE, RS - Centro Cenotécnico do Rio Grande do Sul deve ser demolido pra uma obra viária. Foto: Joana Berwanger/Sul21
Centro Cenotécnico do Rio Grande do Sul deve ser demolido para uma obra viária | Foto: Joana Berwanger/Sul21

Luís Eduardo Gomes

Após anos de impasse, o Centro Cenotécnico do Rio Grande do Sul parece estar de fato fechando as portas, temporariamente, para que possa dar espaço às obras de duplicação da rua Voluntários da Pátria, no Centro da Capital. Para se despedir do espaço, diversos grupos artísticos realizam neste sábado uma grande festa no local, que durante muitos anos serviu de centro de formação e se consolidou como uma espaço necessário para a cena artística da cidade e do Estado.

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Fundado em 1995, o Centro Cenotécnico tinha o objetivo de ser um espaço de formação para artistas de segmentos como teatro, dança, circo, entre outros. “O conceito inicial do Centro Cenotécnico foi de ser um espaço não só para a formação da proposta de espetáculo em si, mas para formação e preparação dos artistas para a cena. Desde confecção da vestimenta, como do cenário, os cursos de iluminação que eram dados, os figurinos que eram criados, tinha formação para criar o cenário”, afirma Clóvis Rocha, diretor do Instituto Estadual de Artes Cênicas (Ieacen), que administra o espaço.

Para os artistas, o Centro é um espaço único, sem similares no Estado. “Eu acho que o Centro Cenotécnico é muito importante para a arte. A gente como grupo artístico não tinha outro espaço para construção de cenografia”, afirma Tainá Borges, produtora e artista do Circo Híbrido. Ela acrescenta que para grupos circenses, como o dela, o Centro era ainda mais importante para ensaios e apresentações. “Os teatros não têm um espaço adequado para esse tipo de atividade, o Centro permitia isso. Recebia oficinas de circo, de trapézio e balanço, coisa que é muito difícil achar em Porto Alegre”.

Ao longo do tempo, porém, acabou funcionando também como depósito de materiais de grupos artísticos e um espaço utilizado para gravações de videoclipes, ensaios fotográficos e exibições de filme. “A gente vê que a ideia inicial se perdeu um pouco”, opina Clóvis.

O fechamento do Centro Cenotécnico passou a ser discutido em 2012 entre Prefeitura e governo do Estado. A prefeitura precisava demolir parte do prédio para concluir a obra de duplicação da rua Voluntários da Pátria, que deveria estar pronta ainda antes da Copa do Mundo de 2014.

Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21
Centro Cenotécnico tinha espaço para ensaios e apresentações cênicas | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

Ainda em 2012, foi fechado um acordo para a cessão de parte do terreno do Centro, que incluía a fachada do prédio, uma sala de ensaios e apresentações e partes do salão principal e de um depósito de material cênico. Em contrapartida, a Prefeitura iria ressarcir em cerca de R$ 2 milhões a Secretaria Estadual da Cultura (Sedac) para a reforma do prédio.

Quase dois anos depois da Copa, a duplicação da Voluntários ainda não foi concluída. No entanto, a Prefeitura permanece precisando desocupar o Centro Cenotécnico para concluir o trecho que vai até a Rua Ramiro Barcelos, o que deve acontecer logo e obrigar o fechamento temporário do prédio.

Segundo Clóvis, o acordo firmado em 2012 especifica que a Prefeitura deverá fazer o ressarcimento em até 60 dias após a realização das obras necessárias para a duplicação da Voluntários. Com este recurso, poderá ser feita uma grande reforma no prédio. “Inicialmente, se faria outra construção lá, mas o valor é baixo para outra construção. Para uma reforma do espaço que sobra é possível, desde que haja algumas parcerias”, explica Clóvis.

Ele projeta que seja necessária a realização de uma reforma no telhado, na parte elétrica e em outras estruturas do prédio, que apenas recebiam a manutenção básica pelos próprios artistas que utilizavam o espaço. “Seria necessário ou uma reforma ou uma reconstrução do espaço, visto que tinha goteiras, problemas na parte elétrica e que isso constantemente levava os funcionários a sempre ter que lutar para manter o espaço aberto. A parte elétrica tem que ser totalmente refeita”, afirma o diretor do Ieacen.

Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21
Espaço servia como depósito cênico | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

Ao final da reforma, mesmo com a perda de cerca de 1.250 m² – de um total de 3,4 mil m² construídos -, a expectativa é que o espaço possa ser melhor aproveitado. “Vamos ganhar um centro, talvez com uma perda de espaço, mas com melhores condições do que nós tínhamos”, diz Clóvis. O Ieacen também está em conversas com a construtora responsável pela duplicação da avenida para que esta faça a reforma da fachada do Centro após derrubar o que for necessário.

Para Tainá, do Circo Híbrido, a reforma, apesar de diminuir o espaço total do Centro, também pode ser considerada positiva. “Se reformarem e fizerem uma manutenção do espaço, é muito bom. É uma pena que vai ficar bem menor, mas acho que continuando destinado à cultura já é uma grande vitória, porque inicialmente talvez a gente perdesse esse espaço”, afirma. “Eu acho que a cultura precisa de mais espaços e o Centro até podia não estar com a manutenção adequada, mas não era ocioso, tinha bastante gente que utilizava”.

Segundo Clóvis, o Ieacen já recebeu, de parte da Prefeitura, vários avisos sobre o início das obras desde o ano passado, mas isso ainda não aconteceu. De acordo com a Prefeitura, além de parte do Centro Cenotécnico, as obras de duplicação da Voluntários da Pátria também afetarão um prédio na sede da Secretaria Estadual de Segurança Pública (SSP). A ideia é que a demolição das duas estruturas ocorra simultaneamente, mas ainda estão em fase de elaboração de termo de referência (TR) para suas contratações. A expectativa da Secretaria Municipal de Gestão (SMGES) é que isso ocorra no segundo semestre deste ano, sem um mês definido.

‘Até breve’

Para se despedir Centro Cenotécnico antes da reforma, o Circo Híbrido realiza na noite deste sábado (9) uma edição do evento Cabaré Valentin, organizado pelo grupo, que mistura apresentações artísticas com uma festa.

A noite começa com uma recepção por parte dos alunos da Escola do Circo Híbrido, a partir das 20h. Às 21h, acontecem apresentações de Cia. UmPédeDois, Circo Petit Poa, Cia Um e Maio, Bandinha de Di Dá Dó, grupo de dança Corpo Bolados, o acrobata aéreo Michel Viegas e um número de trapézio de Juliana Coutinho, ex-artista do Cirque du Soleil, e Carol Martins. “É uma celebração de arte para dizer um até breve com boas vibrações”, afirma Tainá.

Depois das apresentações, a partir da meia-noite, começa a festa. Os ingressos custam R$ 15 (antecipado) e R$ 30 (na hora), e podem ser comprados na Loja Sirius.


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