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18 de março de 2016
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20:53

‘Os próximos dias que viveremos valerão anos’, diz dirigente do MST

Por
Sul 21
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Cedenir de Oliveira: “A agenda política do golpismo só agravará a crise". (Foto: Joana Berwanger/Sul21)
Cedenir de Oliveira: “A agenda política do golpismo só agravará a crise”. (Foto: Joana Berwanger/Sul21)

Marco Weissheimer

“Já se disse que há dias que valem por anos. Os próximos dias que viveremos são deste tipo”. A observação feita por Cedenir de Oliveira, da coordenação estadual do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no Rio Grande do Sul, deu o tom político do ato realizado na manhã desta sexta-feira (18), no Assentamento Filhos de Sepé, em Viamão, durante a 13ª abertura oficial da colheita do arroz agroecológico. A cerimônia foi dividida em duas partes. A primeira foi a abertura oficial da colheita que ocorreu ao lado de uma das lavouras de arroz orgânico do assentamento de 6.935 hectares, que deverá colher cerca de 125 mil sacas na safra 2015-2016. A segunda foi o ato político que reuniu dirigentes do MST e de outros movimentos sociais, da CUT, dois ex-governadores, o prefeito de Viamão e representantes dos governos estadual e federal.

Morador do Assentamento Filhos de Sepé, que completará 18 anos de existência em dezembro de 2016, Cedenir de Oliveira destacou as conquistas obtidas neste período que fizeram do MST o maior produtor de arroz orgânico da América Latina em um tempo relativamente curto. “Nós chegamos aqui, há 18 anos, com um colchão velho e uns pedaços de lona”, lembrou. Cedenir falou também sobre o atual momento político do país e defendeu que, para sair da crise atual, é preciso manter a ordem democrática, mudar a política econômica, fazer uma reforma política profunda  e também uma reforma no sistema de comunicação do país. “A agenda política do golpismo”, acrescentou, só agravará a crise.

“Hora é de mobilização, vigília e firmeza”

Tarso Genro: "Estão forçando o impedimento da presidenta Dilma, sem nenhuma justificativa legal. Isso se chama golpe". (Foto: Joana Berwanger/Sul21)
Tarso Genro: “Estão forçando o impedimento da presidenta Dilma, sem nenhuma justificativa legal. Isso se chama golpe”. (Foto: Joana Berwanger/Sul21)

O ex-governador e ex-ministro da Justiça, Tarso Genro, definiu a crise atual como o resultado de uma “articulação política entre a grande mídia, a direita política do país, setores do Judiciário e do Ministério Público, que está construindo uma coroa de espinhos em torno do governo Dilma e do Estado brasileiro”. “Sabemos das limitações deste governo quanto ao avanço da política de Reforma Agrária e de outras políticas sociais. Outra coisa é o que o campo mais conservador e reacionário da direita está fazendo com este governo legitimamente eleito. Estão forçando o impedimento da presidenta Dilma, sem nenhuma justificativa legal. Isso se chama golpe”, assinalou Tarso.

Já passamos por isso em 64, lembrou o ex-governador gaúcho. “Naquele momento era um golpe visível articulado diretamente pela CIA. O golpe atual é mais complexo, pois é relativamente invisível e cumulativo. Hoje, a corrupção é mais visível no país porque começamos a combatê-la para valer. A hora é de mobilização, vigília e firmeza. Estamos vendo pessoas com mentalidade fascista nas ruas, que não toleram divergência de opinião. Se o golpe ocorrer, as primeiras vítimas serão justamente organizações populares como MST e CUT. Mas se golpearem, no dia seguinte estaremos todos juntos para resistir e reconstruir”.

“As pessoas sérias estão sendo julgadas pelos bandidos”

O deputado federal Dionilso Marcon (PT) definiu a conjuntura atual como “um dos momentos mais difíceis da luta de classes no Brasil”. Para Marcon, o que está ocorrendo no Brasil faz parte de uma ofensiva patrocinada pelos Estados Unidos que tem como alvo também outros países da América Latina, como Venezuela, Paraguai, Argentina e Bolívia. “A ofensiva deles é contra um projeto político em curso em vários países”, resumiu. O deputado petista manifestou pouca confiança que a crise possa ser superada no âmbito do Congresso Nacional. “Se houvesse justiça no Brasil, Eduardo Cunha já estaria preso. As pessoas sérias estão sendo julgadas pelos bandidos. Só podemos virar o jogo se formos para a rua”, defendeu.

Na mesma linha, o deputado estadual Edegar Pretto (PT) defendeu a via da mobilização popular nas ruas como caminho para enfrentar a crise. “Precisamos reagir e este ato hoje nos enche de ânimo, esperança e alegria”. Para Pretto, o que a presidenta Dilma Rousseff está enfrentando hoje deve-se também ao fato dela ser mulher. “Eles não suportam uma mulher na presidência”.

Claudir Nespolo: “Cadê os grampos no Eduardo Cunha, da Gerdau, da RBS e dos ladrões de merenda em São Paulo?” (Foto: Joana Berwanger/Sul21)
Claudir Nespolo: “Cadê os grampos no Eduardo Cunha, da Gerdau, da RBS e dos ladrões de merenda em São Paulo?” (Foto: Joana Berwanger/Sul21)

O presidente da Central Única dos Trabalhadores do Rio Grande do Sul (CUT-RS), Claudir Nespolo, afirmou, por sua vez, que o golpe em curso é operado por um grupo articulado que age como uma quadrilha. Esse grupo, acrescentou, tem um núcleo de inteligência que está localizado nos Estados Unidos e um núcleo operativo aqui no Brasil, dividido entre um núcleo institucional e um midiático. “Vocês acham que a indústria petroleira norteamericana achou engraçado o modelo de partilha adotado pelo governo brasileiro para a exploração do pré-sal? Vocês acham que o governo dos Estados Unidos achou engraçado o fato de o governo brasileiro decidir comprar caças da Suécia e não da indústria deles?” – questionou.

O núcleo institucional desse grupo, disse ainda Nespolo, reúne setores da Polícia Federal, do Ministério Público e do Judiciário, sendo coordenado pelo juiz Sérgio Moro. “Cadê os grampos no Eduardo Cunha, da Gerdau, da RBS e dos ladrões de merenda em São Paulo?” – perguntou o sindicalista. Já o núcleo midiático, acrescentou, é responsável pelo bombardeio permanente da opinião pública com o que é produzido pelo núcleo institucional.

“Precisamos arrancar o inço da nossa lavoura”

Olívio Dutra: Hoje, o partido que ajudamos a construir faz parte do problema, não é a solução do problema". (Foto: Joana Berwanger/Sul21)
Olívio Dutra: Hoje, o partido que ajudamos a construir faz parte do problema, não é a solução do problema”. (Foto: Joana Berwanger/Sul21)

Último orador, o ex-governador Olívio Dutra também falou sobre a crise e, fazendo uma analogia com a abertura da colheita do arroz agroecológico, disse que é “preciso cuidar para que não se crie inço em nossa lavoura, pois às vezes ele se cria”. “Precisamos ter boas mãos para fazer a semeadura, a colheita e, depois, distribuir o resultado da colheita. E nós não cuidamos direito da nossa lavoura e o inço foi se criando. Hoje, o partido que ajudamos a construir faz parte do problema, não é a solução do problema. Nossa tarefa agora é arrancar esse inço pela raiz, retomar a semeadura e ampliar a área plantada”, disse Olívio.

O dirigente histórico do PT definiu a ofensiva em curso contra o governo Dilma como uma “tentativa de privatizar o Estado brasileiro”. “Nosso governo está sendo garroteado por corporações internas e externas que tem essa agenda de privatização do Estado. É contra isso que precisamos lutar. Mas não há saída para essa situação sem que o povo seja sujeito da política”, concluiu.

 


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