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11 de outubro de 2015
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17:07

Algodão orgânico vira peças exclusivas e alimenta economia solidária de Norte a Sul do Brasil

Por
Sul 21
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Plantação de algodão orgânico no Ceará | Foto: Justa Trama/ Divulgação
Plantação de algodão orgânico no Ceará | Foto: Justa Trama/ Divulgação

Débora Fogliatto

Em uma cadeia produtiva que vai do Norte ao Sul do Brasil, algodão orgânico é plantado, trançado, costurado, tingido e transformado em roupas e acessórios pela Cooperativa Central Justa Trama. Baseada nos princípios de proteção do meio ambiente e de economia solidária, a rede existe há dez anos e inaugurou, dia 3 de outubro, sua sede, no bairro Sarandi, em Porto Alegre.

A Justa Trama existe há dez anos, desde o Fórum Social Mundial de 2005, realizado em Porto Alegre. Na ocasião, foram feitos produtos por associações de economia solidária e, segundo a presidente Nelsa Ines Fabian, motivou uma das cooperativas a “pensar em dar um salto maior”. A Cooperativa de Costureiras Unidas Venceremos (Univens), uma das que forma a organização, começou então a pensar nas peças que poderiam ser produzidas e, nos encontros nacionais de economia solidária, deu início às conversas que resultariam na união de diferentes iniciativas pelo país. “A gente foi encontrando esses elos para construir essa cadeia que é a Justa Trama”, resume Nelsa.

O algodão orgânico utilizado é plantado no interior de Mato Grosso do Sul, em dois assentamentos rurais, e do Ceará. Já em Minas Gerais, é feita a fiação e tecelagem, enquanto em Rondônia são confeccionados os botões, e chegando em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul acontece a finalização, com a costura das peças finais e, recentemente, o tingimento das roupas. São mais de 600 pessoas envolvidas em todo o processo, das quais cerca de 20 vivem e trabalham na capital gaúcha, com a Univens.

Cooperativas participaram de feira de economia solidária em Porto Alegre, no ano passado | Foto: Divulgação Justa Trama
Cooperativas participaram de feira Latinoamericana de economia solidária em Porto Alegre, no ano passado | Foto: Divulgação Justa Trama

Para Nelsa, que trabalha na Univens desde 1996, essa estrutura é própria da economia solidária. “Essa é a compreensão da economia solidária, ver como podemos ir construindo processos de rede, de cadeias, onde se consiga ter controle de todo o processo de produção”, afirma, destacando que, com a renda obtida, o dinheiro é distribuído entre todos os elos de acordo com o trabalho de cada um. Assim, o trabalho das cooperativas não é atravessado por empresas que busquem o lucro e explorem os trabalhadores.

Ela destaca que o algodão é um dos produtos que mais recebe agrotóxicos na sua produção — cerca de 1/4 de todos os agrotóxicos do mundo — e, por isso, a Justa Trama dá tanta importância aos produtores orgânicos. Além de vendas online e, agora, na sede que será inaugurada, as roupas e acessórios também podem ser encontrados em algumas lojas alternativas no Centro de Porto Alegre, além de Passo Fundo, Livramento, uma no Mato Grosso do Sul, outra em Rondônia e três no Uruguai.

Mesmo com a trajetória de uma década, a Justa Trama funciona como complemento de renda para os trabalhadores que participam, até pela pouca quantidade de algodão orgânico disponível para a produção, que não permite confeccionar as peças em maior escala. A maioria dos agricultores, por exemplo, planta também outros produtos orgânicos, que comercializa de outras formas. “Em todos os locais abriu muitas possibilidades para quem participa”, apontou Nelsa.

Além da produção e venda, a Justa Trama também proporciona, no bairro Sarandi, a possibilidade de formação em costura ou tingimento. “Temos 18 mulheres atualmente no curso de costura e outras 15 no de tingimento. Elas podem depois vir a participar da cooperativa, ou não, mas com certeza isso será uma fonte de geração de renda para elas”, avalia Nelsa. O tingimento, uma novidade na produção, é feita com corantes naturais, especialmente o urucum, que vem da Amazônia.

Um dos novos produtos é o tênis, produzido no Rio Grande do Sul | Foto: Justa Trama/ Divulgação
Um dos novos produtos é o tênis, produzido no Rio Grande do Sul | Foto: Justa Trama/ Divulgação

A inauguração do prédio com lavanderia e tinturaria acontece a partir das 15h deste sábado (3), em uma festa que celebra também os dez anos da rede, no bairro Sarandi. A comunidade local, “em toda sua diversidade”, segundo Nelsa, prepara ainda um desfile com as roupas coloridas da nova coleção. “Queremos trazer o tema da agroecologia para mais perto da comunidade, para que pessoas possam se conscientizar também sobre o que vestem”, aponta a fundadora.

Para conseguir o espaço, a Justa Trama contou com patrocínio da Petrobras, o que permitiu ter a estrutura para formalizar a sede própria. “Nossa ideia é continuar inovando, criando novas alternativas e nunca abrindo mão do cuidado com o meio ambiente”, garante Nelsa.

 


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