Jaqueline Silveira
Em uma assembleia tumultuada, os professores estaduais decidiram, na tarde desta sexta-feira (11), no Pepsi on Stage, pelo fim da greve deflagrada no dia 31 de agosto, em protesto ao parcelamento dos salários e contra os projetos do governo José Ivo Sartori (PMDB) que afetam os servidores estaduais. Os educadores voltam às aulas na segunda-feira (14). Depois da votação, realizada duas vezes e de forma visual, a presidente do Centro dos Professores do Rio Grande do Sul (Cpers/Sindicato), Helenir Aguiar Schürer, declarou vencedora a proposta pelo fim da paralisação, gerando protestos do grupo que defendia a continuidade da greve.
Descontentes com o resultado por considerar que a maioria teria sido a favor da continuidade da paralisação, manifestantes avançaram em direção ao palco, derrubando a grade de proteção e empurrando os seguranças que tentavam contê-los. Aos gritos de “vergonha, vergonha”, “greve, greve”, eles jogaram cadeiras, bandeiras no palco, além do papel com as pautas da assembleia.
Antes do arremesso de objetos, a presidente do Cpers tentou pedir calma para os defensores da continuidade da greve, mas foi em vão. “Podem reclamar, podem reclamar”, dizia Helenir, ao descontentes. Mas, depois de algumas tentativas de seguir com a assembleia, a presidente do sindicato a encerrou. “Por total impossibilidade demos a assembleia por encerrada”, declarou ela, momento em que os seguranças tiraram rapidamente os dirigentes do sindicato da mesa devido aos objetos arremessados.
As assembleias da categoria normalmente são realizadas no Gigantinho, mas, desta vez, como não havia disponibilidade para a data, aconteceu no Pepsi on Stage, que tem capacidade menor, abrigando 2,2 mil professores. Por esse motivo, foi instalado um telão no pátio para os educadores que não puderam entrar para acompanhar e votar na assembleia. Na parte interna, a direção do Cpers acompanhava o que acontecia do lado de fora por uma televisão colocada em frente à mesa dos dirigentes do sindicato. “Aqui dentro foi dividido, mas lá fora a ampla maioria queria o fim da greve”, argumentou Helenir, logo depois do encerramento forçado assembleia. “Agora, o pessoal vai ficar brabo, mas a assembleia foi sábia”, complementou a líder do Cpers. Contudo, a professora admitiu que, se dois terços da composição do conselho do sindicato aprovar, pode ser realizada nova assembleia para rever a paralisação.
Depois de jogarem os objetos no palco, representantes da antiga direção do Cpers usaram um megafone para mobilizar os defensores da greve, gritando palavras de ordem. “Temos que continuar a luta”, “greve, greve”, bradavam em coro. O grupo, que tem como uma das principais lideranças a ex-presidente do sindicato Rejane de Oliveira, não descarta recorrer à Justiça para contestar o resultado da assembleia.
Com o clima tumultuado, quatro viaturas da Brigada Militar com pelo menos nove policiais se posicionaram no canteiro da Avenida Severo Dullius, em frente ao local onde ocorreu a assembleia e acompanharam a movimentação de longe.
A tensão começou antes mesmo da assembleia. Como a capacidade do Pepsi on Stage era só para 2,2 mil pessoas, centenas de professores ficaram do lado de fora. Muitos gritavam “abre, abre” em relação às portas que foram fechadas assim que a capacidade se esgotou. Educadores levantavam suas carteiras mostrando que eram sindicalizados e exigiam o direito de acessar o local.
Em certo momento, professores que estavam no lado de fora avançaram forçando a abertura da porta de emergência. Seguranças tentaram barrar e houve empurra-empurra, mas alguns conseguiram acessar o local. Um integrante do Corpo de Bombeiros foi à porta e avisou que não poderia liberar mais ninguém, mesmo assim alguns educadores continuaram insistindo e bradaram contra a atual direção do Cpers/Sindicato.
Enquanto isso, na parte interna do Pepsi on Stage, a direção conversava, inclusive, com integrantes do Corpo de Bombeiros para contornar a situação “Que bom que a categoria respondeu”, comentou a presidente do Cpers/Sindicato sobre o número de professores que compareceram à assembleia e formavam uma longa fila. A alternativa encontrada, então, foi a instalação do telão no pátio, acalmando um pouco os ânimos. “Nós não seremos irresponsáveis de colocar mais pessoas do que o permitido”, avisou Helenir, dando um recado aos mestres que estavam do lado de fora, pouco antes de começar a assembleia. Conforme o Corpo dos Bombeiros, entre 400 e 500 pessoas acompanharam a reunião no pátio.
Já na assembleia, professores contra e favor da manutenção da greve defenderam as propostas, sob muitas vais, gritos e apitaço, que abafava a fala de quem estava ao microfone. “Não tem história, é greve até a vitória”, “É greve até a vitória”, gritavam muitos dos manifestantes. Uma das mais ferrenhas defensoras da paralisação por tempo indeterminado foi a ex-presidente do Cpers Rejane de Oliveira. “A categoria não quer sair do movimento derrotada”, argumentou ela, conclamando os professores a pressionarem o governo Sartori e os deputados com o fim de barrar os projetos que afetam os servidores.
Vice-presidente do Cpers, Solange Carvalho ressaltou que a maioria dos núcleos tinha decidido como estratégia “dar um passo atrás para dar um passo à frente”. Ela alertou que categoria travará muitas lutas até o final do mandato do governo Sartori, pedindo cautela aos educadores, a quem chamou de “guerreiros”. “Não podemos agora gastar toda a nossa munição”, justificou ela.
“Não se trata aqui de quem luta mais ou quem luta menos, todos nós lutamos, precisamos ouvir aqueles que trabalham nas escolas”, pediu uma professora, ao microfone, na tentativa de amenizar o clima de animosidade, que aumentou com o resultado da votação e culminou com o fim da assembleia antes do previsto.
Com o fim da greve, os professores seguirão com as paralisações e calendários de atividades do restante das categorias.
Confira mais fotos da assembleia: