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8 de setembro de 2015
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22:35

Estado registra recorde de homicídios no feriadão; policiais responsabilizam governo

Por
Sul 21
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Na sexta, vários estabelecimentos foram alvo de assaltos no Menino Deus e um comerciante que passeava com os cachorros na Avenida Getúlio Vargas, vitima de bala perdida |Foto: Guilherme Santos/Sul21
Na sexta, ocorreu uma série de  assaltos no bairro Menino Deus e um comerciante, que passeava com os cachorros na Avenida Getúlio Vargas, foi vítima de bala perdida  e morreu nesta terça (8) |Foto: Guilherme Santos/Sul21

Jaqueline Silveira

Foram registrado 40 homicídios no Rio Grande do Sul no feriadão de três dias que se encerrou na segunda-feira (7). O número de assassinatos registrado é o recorde dos últimos cinco anos durante um final de semana, segundo o presidente da Associação de Cabos e Soldados da Brigada Militar (Abamf), Leonel Lucas. Entre as razões para o aumento da criminalidade no Estado estaria o aquartelamento motivado pelo parcelamento dos salários dos servidores do Estado pelo segundo mês consecutivo, além da falta de efetivo. Sindicalistas, no entanto, dizem que a situação não deve melhorar com o retorno dos policiais às atividades normais e criticam medidas do governo, como o corte de horas extras e a falta de contratações.

Na Capital, foram registradas inúmeras ocorrências graves. O bairro Menino Deus, por exemplo, foi alvo de uma série de assaltos a estabelecimentos comerciais, como supermercados, farmácias e postos de combustíveis, na noite de sexta-feira (4). Entre os alvos, dois supermercados da rede Nacional. Durante uma das perseguições, polícia e assaltantes trocaram tiros, atingindo um comerciante que passeava com os cachorros na Avenida Getúlio Vargas, umas das mais movimentadas do bairro. Dono de uma padaria, Elvino Nunes Adamczuk morreu na manhã desta terça-feira (8). O tiroteio da sexta seguiu pelos bairros Azenha e Santana, assustando os moradores.

Comerciante morto era dono de uma padaria bem cohecida no Bairro Menino Deus, perto de onde foi baleado|Foto: Guilherme Santos/Sul21
Comerciante morto era dono de uma padaria bem conhecida no Bairro Menino Deus. Ele foi baleado em troca de tiros entre polícia e assaltantes  perto do seu estabelecimento|Foto: Guilherme Santos/Sul21

No mesmo dia foi registrado um assalto a um estabelecimento na Rua Padre Chagas, no bairro Moinhos de Vento, além de arrastões no Centro. Os bairros Bom Fim e Rio Branco também foram cenário de dois homicídios recentemente. Um assassinato ocorreu na noite de quinta-feira (3) em uma tentativa de assalto a um comerciante no Rio Branco. Já no Bom Fim, outra morte foi registrada à luz do dia.

O Bairro Moinhos de Vento também registrou assalto durante feriadão, em uma avenida conhecida pelos bares |Foto: Guilherme Santos/Sul21
O Bairro Moinhos de Vento também registrou assalto durante o feriadão em uma rua conhecida pelos seus bares|Foto: Guilherme Santos/Sul21

 

Já nos bairros Rio Branco....... |Foto: Guilherme Santos/Sul21
Já nos bairros Rio Branco……. |Foto: Guilherme Santos/Sul21

 

e Bonfim foram registrados homicídios nas últimas semans|Foto: Guilherme Santos/Sul21
e Bom Fim foram registrados homicídios nas últimas semanas|Foto: Guilherme Santos/Sul21

Na periferia da Capital, o feriadão também foi violento, registrando inúmeros homicídios, entre eles, nos bairros Rubem Berta e Jardim Itu Sabará. No interior do Estado, em diversas regiões ocorreram assassinatos, inclusive em cidades menores. Já na tarde desta terça-feira (8), um outro supermercado Nacional da Capital, desta vez no bairro Boa Vista, foi assaltado.

Isso sem falar na rotina de roubos e caixas eletrônicos e assaltos a agências bancárias. Esse tipo de crime tem ocorrido em todas as regiões do Estado, principalmente nas cidades menores. Nos primeiros 10 dias de agosto, por exemplo, foram registrados 10 ataques a agências bancárias, segundo dados do SindBancários.

“A insegurança está em todo o Estado”, avalia o presidente da Abamf. Ele atribui o aumento da criminalidade às medidas adotadas pelo governo José Ivo Sartori, como o corte de horas extra dos PMs e de combustíveis das viaturas, além do parcelamento dos salários. “Essa insegurança não vem do nosso movimento (servidores da segurança), vem do destrabalho que o governo está fazendo. Tem de perguntar para o governador sobre os homicídios”, alfinetou o representante da Abamf.

Segundo ele, antes dos cortes, a cada cinco policiais, quatro faziam horas extras permitindo maior segurança. “As horas extras eram um investimento em segurança, e não salário”, argumenta Lucas.

TJ nega pedido para chamar mais 2,5 mil policiais

Além disso, o presidente da Abamf diz que a falta de segurança no Estado se agrava devido ao déficit de policiais militares. Hoje, ressalta ele, há um efetivo de 16,8 mil brigadianos e o necessário seriam 35 mil. Na tarde desta terça-feira, inclusive, o Tribunal de Justiça divulgou a decisão da desembargadora Isabel Dias Almeida que negou pedido de liminar no mandado de segurança coletivo ingressado pela Abamf para que o governo do Estado nomeasse os 2,5 mil brigadianos aprovados em concurso. Na decisão, a magistrada argumentou que a concessão da liminar no caso exige, além do risco do dano, a relevância da fundamentação, requisitos que ela entendeu não estarem presentes para atender pedido da Abamf.

Ugeirm diz que situação é fruto dos cortes e do fim de políticas públicas

Isaac Ortiz diz que tinham alertado que a economia irá cobrar um preço ali adiante |Foto: Guilherme Santos/Sul21
Isaac Ortiz diz que tinham alertado que a economia do governo iria cobrar um preço ali adiante |Foto: Guilherme Santos/Sul21

Presidente do Sindicato dos Escrivães, Inspetores e Investigadores de Polícia do Rio Grande do Sul (Ugeirm), Isaac Ortiz, frisa que há bastante tempo as entidades ligadas à segurança vinham alertando sobre o crescimento da criminalidade, em virtude do contingenciamento de recursos para a área limitado pelo decreto do governo, baixado no começo deste ano. “Foi terrível! Foi muita gente morta. Isso é fruto da política do governo Sartori e não da nossa paralisação”, afirma ele, referindo-se a, entre outros cortes, o de horas extras, além da desativação dos territórios da paz, política adotada nas regiões mais violentas.

O sindicalista criticou o fato de o governo realizar economia com o corte de despesas em áreas como a da segurança. “Nós dizíamos que isso ia ter um preço ali adiante, que é a vida das pessoas”, ressalta Ortiz. O presidente da Ugeirm fez, ainda, uma alerta de que a situação não irá melhor com o fim da paralisação das categorias, uma vez que é preciso a implantação de políticas públicas e investimentos, como a contratação de mais policiais. “Não achem que nós vamos voltar a trabalhar e isso vai mudar”, avisa ele.

O representante dos policiais civis responsabilizou, além do governo, sua base aliada na Assembleia Legislativa pela situação do Estado. “O que está acontecendo, essa criminalidade, esse governo, nota 10 para eles!”, ironizou Ortiz.

Paralisação das categorias

Até a próxima sexta-feira (11), os policias trabalham em ritmo de operação padrão, ou seja, eles só deixam os quartéis se tiverem condições de trabalho, como armamento, coletes e viaturas regularizadas. Em algumas cidades, segundo Lucas, os PMs ainda permaneceram aquartelados durante esta terça-feira.

As demais categorias da área da segurança, como Polícia Civil, Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe) e Instituto Geral de Perícias (IGP), paralisaram as atividades até a próxima sexta-feira (11) em protesto ao pagamento parcelado dos salários.

 


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