Agenda Clandestina
|
27 de março de 2020
|
16:43

Agenda Clandestina: Programação cultural em tempos de pandemia

Por
Sul 21
[email protected]

Da Revista Clandestina 

Olá. Estamos de volta para mais uma Agenda Clandestina no Sul21, e neste cenário de pandemia, seguimos defendendo o isolamento social como contenção ao novo coronavírus, o Covid-19. Para ajudar a atravessar um período indefinido de quarentena, nestas semanas traremos dicas culturais dos nossos curadores para apreciar de dentro de casa.

A Revista Clandestina incentiva aqueles e aquelas que puderem a permanecer em seus lares. Nesse sentido, pedimos ao nosso curador de Literatura, Fernando Ramos, uma lista com dez leituras essenciais para amenizar o sentimento de ansiedade e solidão dos dias de isolamento social. Tem autores brasileiros, latino-americanos, poesia, romance e muito mais. Confira:

Capa do livro ‘A queda do céu’. Foto: Divulgação

1. A Queda do Céu, de Davi Kopenawa Yanomami e Bruce Albert

“A Queda do Céu” relata as lutas dos povos da floresta pelo olhar de um grande xamã e porta-voz dos Yanomami. O livro nasceu das palavras contadas pelo xamã ao etnólogo Bruce Albert. Foram mais de trinta anos de convivência entre o etnólogo-escritor e o povo de Davi Kopenawa, o xamã-narrador. A obra oferece um relato, testemunho e manifesto xamânico contra a destruição da floresta Amazônica e a respeito do contato predador com o homem branco, ameaça constante para os Yanomami  desde os anos 1960. A narrativa expõe uma crítica profunda e nos faz questionar a noção de progresso e desenvolvimento que são consensuais na sociedade.

Ana Maria Gonçalves. Foto: Divulgação

2. Um defeito de cor, de Ana Maria Gonçalves

Escritora brasileira, Ana Maria Gonçalves nasceu em 1970 em Minas Gerais. Publicitária de formação, abandonou a carreira em 2002 para dedicar-se à literatura. Em 2006, ela publicou seu segundo livro “Um defeito de cor”. O romance narra a fascinante história de Kehinde, uma africana idosa que viaja da África para o Brasil em busca do filho perdido. Ao longo de sua jornada, ela relata uma vida marcada por mortes, estupros, violência e escravidão. O livro propõe uma narrativa repleta de fatos históricos imersos no cotidiano e na vida dos personagens retratados. A escritora é uma das homenageadas do FestiPoa Literária de 2020.

Capa e contracapa do livro ‘Marrom e Amarelo’. Foto: Divulgação

3. Marrom e amarelo, de Paulo Scott

Porto-alegrense, Paulo Scott é escritor e professor universitário. Já foi vencedor dos prêmios Machado de Assis da Fundação Biblioteca Nacional, APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) e Açorianos de Literatura.  Lançado em 2019, “Marrom e amarelo” retrata a história dos irmãos Federico e Lourenço. Federico é claro, “de cabelo lambido”, e Lourenço é preto. Eles crescem sob a pressão da discriminação racial. A história dos irmãos é conduzida pelo olhar de Federico, que carrega uma imensa dor dos enfrentamentos raciais em que não conseguiu se posicionar ao longo da vida. Agora, com 49 anos, ele é chamado para uma comissão em Brasília, instituída pelo novo governo, para discutir o preenchimento das cotas raciais nas universidades. Em meio a debates tensos e burocracias absurdas, ele se recorda de eventos traumáticos da infância e da juventude.

4. Garotas mortas, de Selva Almada

Escritora argentina, Selva Almada é considerada pelo público e pela crítica umas grandes revelações da literatura latino-americana da atualidade. “Garotas Mortas” é um livro de não-ficção, em que Almada apresenta três casos de feminicídio que ocorreram na Argentina em 1980, logo após a redemocratização do país. Os crimes narrados não foram suficientes para estampar as manchetes dos jornais ou mobilizar a cobertura dos canais de TV, mas a escritora resolveu resgatá-las em sua obra. Através dos três assassinatos, a autora demonstra o quanto a violência sofrida por mulheres e meninas foi e ainda é invisibilizada. 

A escritora Gioconda Belli. Foto: Divulgação

5. O país das mulheres, de Gioconda Belli

Poetisa e romancista nicaraguense, Gioconda Belli é reconhecida por abordar de forma revolucionária o corpo e a sensualidade feminina em suas obras. Em “O país das mulheres”, a autora fala de um país fictício, Faguas, o qual as mulheres passam a governar. Através das memórias da personagem Vivian Sansón, conhecemos a história do Partido da Esquerda Erótica (PEE) e de suas integrantes, que estão convictas que o poder exercido pelas mulheres pode conquistar o que em séculos o poder masculino não alcançou.

6. Sangria, de Luiza Romão

Segundo livro da poetisa Luiza Romão, “Sangria” revisita a história e a identidade brasileira a partir do corpo feminino. No livro, a escritora mistura os ciclos econômicos do Brasil com ciclos biológicos da mulher e as fases de um útero — ovulação, menstruação, concepção. A obra é dividida em 28 poemas para 28 dias (de ciclo).  Cada poema é acompanhado por uma imagem do fotógrafo Sérgio Silva, que produziu um ensaio com partes do corpo de Romão para ilustrar o livro.

7. Só para maiores de cem anos, de Nicanor Parra

Poeta chileno, Nicanor Parra foi um dos maiores autores do século XX. Parra venceu o Prêmio Reina Sofía de Poesia Iberoamericana em 2001, o Prêmio Miguel de Cervantes em 2011 e foi várias vezes indicado ao Prêmio Nobel de Literatura. Inventor da antipoesia, o poeta buscava se afastar da poesia eloquente clássica e se aproximar da língua cotidiana — irônica, sarcástica, subversiva e provocadora. Para quem não está familiarizado com o escritor, “Só para maiores de cem anos” serve como apresentação da obra do autor ao reunir 75 poemas de seus principais livros.

A MONTANHA-RUSSA*

Durante meio século
A poesia foi
O paraíso do bobo solene.
Até que cheguei eu
E me instalei com minha montanha-russa.
Subam, se quiserem.
Claro que não respondo se saírem
Botando sangue pelas bocas e narinas.

*Trecho do livro Só para Maiores de Cem Anos

Capa do livro ‘Cinco voltas na Bahia e um beijo para Caetano Veloso’. Foto: Divulgação

8. Cinco voltas na Bahia e um beijo para Caetano Veloso, de Alexandra Lucas Coelho

Jornalista e escritora portuguesa, Alexandra Lucas Coelho mergulhou nas terras baianas para escrever “Cinco voltas na Bahia e um beijo para Caetano Veloso”. Combinando ensaio, reportagem e crônica, a ideia do livro surgiu de uma provocação de Caetano Veloso sobre o romance “Deus-dará”:  “falta Bahia”, brincou o cantor. A partir de diversas viagens, Coelho se aprofundou na história, na cultura popular, na religiosidade, nos personagens e nas heranças da colonização portuguesa que fazem parte do que a Bahia é hoje.

9. Anjo noturno, de Sérgio Sant’Anna

Escritor carioca, Sérgio Sant’Anna é reconhecido pelo caráter híbrido e transgressor de suas obras, que abrangem contos, memórias e novelas. Ao longo das nove narrativas reunidas em “Anjo Noturno”, o autor passa por temas como morte e vida, infância e velhice, paixão carnal e amor fraternal.  O livro foi o vencedor do Prêmio APCA 2017.

10. Como me tornei freira, de César Aira

Apesar de ser um dos grandes expoentes da literatura argentina contemporânea, ainda são poucas as obras de César Aira publicadas no Brasil. Entre as raridades que chegaram às editoras brasileiras, está “Como me tornei freira”, obra que reúne dois romances do escritor — o que dá título ao livro e “A costureira e o vento”.  A primeira história narra a mal sucedida experiência de uma criança com um sorvete, ao experimentá-lo pela primeira vez. Além do gosto ruim, o episódio desemboca em um crime com diversas situações incomuns e insólitas. Já a segunda acompanha a trajetória de uma costureira a Patagônia em busca de seu filho perdido. No caminho, a personagem é confrontada com diversas situações absurdas, com direito a uma mulher obcecada por seu vestido de noiva, um cassino no meio do deserto e um caminhoneiro sádico. Ambas as narrativas de Aria são marcadas pelo surrealismo.

A Clandestina aproveita e indica as pequenas e resistentes livrarias da cidade, que contam com boa parte dos livros indicados e estão atuando de formas alternativas neste momento específico, realizando as vendas por tele-entrega, como as livrarias Baleia, Taverna e Bamboletras.   


Leia também
Compartilhe:  
Assine o sul21
Democracia, diversidade e direitos: invista na produção de reportagens especiais, fotos, vídeos e podcast.
Assine agora