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27 de dezembro de 2012
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07:55

O desafio da mobilidade – Parte IV: Dos Modelos de Mobilidade

Por
Sul 21
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Aqui reside a questão central dos problemas de mobilidade em nossas cidades. O Brasil, como de resto boa parte do mundo, sendo exceção cidades como Veneza, algumas cidades holandesas e norueguesas, optou pelo modelo de mobilidade centrado no transporte individual através dos automóveis. Aliás, alguém algum dia disse para o mundo que um carro individual para cada ser humano é o paraíso na terra. O problema é que os governos, desde o Presidente Juscelino em 1950 até a Presidenta Dilma em 2012, acreditaram. Tanto acreditaram que ancoraram toda a nossa economia na indústria automobilística. E aqui nem se trata de criticar o capitalismo porque os capitalistas também produzem bicicletas, ônibus, BRTs e metrôs. O erro é de política pública mesmo, de modelo de organização da mobilidade.

Há uma célebre questão que parece piada mas que faz todo o sentido. A pergunta é: qual o coletivo de automóvel? A resposta só podia ser uma: Congestionamento. Essa brincadeira infantil esclarece o óbvio. Se todos tiverem um carro na garagem ninguém sai de casa. Esta é a prova de que o modelo de mobilidade centrado no automóvel só funciona se houver uma sociedade desigual onde alguns tem e outros não tem. Numa sociedade minimamente igual já não funciona. Vemos isso atualmente no Brasil. Com a ascensão de pouco mais de 20% da população a chamada classe média a frota de veículos de Porto Alegre quase dobrou e temos congestionamentos todos os dias que são agravados com as obras viárias que existem justamente para acabar com eles.

Daí que a saída é uma só. Temos que pensar um modelo de mobilidade que seja, principalmente, universal. E este modelo deve ser o transporte coletivo planejada numa concepção de rede, com flexibilidade de tipos de veículos, com flexibilidade de itinerários, horários e, inclusive, com flexibilidade de tarifas de forma a atrair pessoas para os ônibus e metrô nos horários de entre-pico.

Dizem que o transporte coletivo só vai atrair a classe média quando for de qualidade. Pois eu digo que o transporte coletivo somente será de qualidade se for a alternativa de transporte da classe média. Daí que a medida mais eficaz para reduzir os congestionamentos e melhorar a qualidade do trânsito é restringir e disciplinar com dias e horários a circulação de automóveis nos centros urbanos. Para que isso seja feito sem que os gestores literalmente percam as suas cabeças deve-se complementar esta medida com a criação de serviços alternativos e complementares ao transporte coletivo oferecendo, num primeiro momento, novas opções de deslocamentos para os usuários que estarão nesta migração forçada do automóvel para as redes públicas de transportes.

Embora pareça muita ousadia esta proposta tenho pra mim que é fazer ou fazer. A diferença entre fazer agora ou depois é apenas uma questão de tempo. Como digo há quase 20 anos: o automóvel é inimigo do automóvel. Quem discorda é só pagar pra ver.


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