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19 de dezembro de 2012
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07:12

O desafio da mobilidade – Parte III: Sobre os conflitos da Macro e Micro Acessibilidade

Por
Sul 21
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Tratando a mobilidade como um direito há que se considerar que quando nos deslocamos temos dois tipos de necessidades. A primeira é de nos locomovermos rapidamente de uma determinada região da cidade para outra, tipo sair do bairro para o centro, ou da zona norte para a zona sul, ou mesmo ir de uma cidade para outra em uma determinada região metropolitana. Para atender esta necessidade é que são construídos os chamados sistemas viários estruturais ou as redes integradas de transporte coletivo de grande capacidade como os metros e, mais recentemente, os BRTs (Bus Rapit Transports). A isto chamamos de macro acessibilidade que consiste nos longos deslocamentos com cerca de 15 a 30 quilômetros dentro de uma área urbana.

Tudo certo conceitualmente não fosse o fato de que estas avenidas e corredores precisam passar por “dentro” das cidades entrando em conflito com outras funções da cidade que são as funções de moradia, lazer, educação, serviços públicos, comércio, dentre outros. Para se ter acesso a estes espaços e, principalmente, poder usufrui-los de forma segura, é preciso que haja um sistema viário e de transportes que privilegie a chamada micro acessibilidade, com calçadas largas, pontos de parada de embarque e desembarque próximos e vias com largura pequena para reduzir a velocidade dos veículos. Geralmente há problemas de circulação e de trânsito quando há conflitos entre estas funções urbanas, ou seja, quando é destinado a um mesmo espaço da cidade cumprir a função de macro e micro acessibilidade. O conflito é claro porque para funcionar bem a função de macro acessibilidade é preciso pistas largas e velocidades acima de 60km/h. Já para permitir com segurança e conforto a micro acessibilidade é preciso reduzir a quantidade e a velocidade dos veículos privilegiando a condição de pedestres.

Como vimos anteriormente, nossas cidades não foram planejadas para proporcionar qualidade de vida as pessoas e sim para reproduzirem os interesses de reprodução do capital. Assim, vemos estes conflitos de funções urbanas em todas as áreas das nossas cidades. Ingênuo é o técnico de engenharia de trânsito que acredita que irá resolver os conflitos de trânsito com projetos de engenharia. O que estas obras geralmente fazem é trocar o conflito de lugar. Para que realmente fosse possível enfrentar este problema seria preciso um redesenho das cidades tendo como premissa a prioridade na segurança e conforto dos pedestres e ciclistas. E sempre organizando a macro acessibilidade de forma que ela não prejudicasse esta função mais nobre que é da micro acessibilidade. Em exemplo claro disso é a proibição do ingresso de automóveis e de veículos de grande capacidade nas áreas centrais dos centros urbanos. Isso é possível com a criação dos chamados estacionamentos dissuasórios nas bordas das áreas centrais para os automóveis e uma integração modal automóvel-ônibus de pequena capacidade para dar acesso aos centros. Uma medida simples, viável e inovadora que pode permitir que nossas cidades sejam mais amistosas aos seres humanos que as habitam.


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