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6 de dezembro de 2012
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00:11

Morre no Rio de Janeiro o arquiteto Oscar Niemeyer

Por
Sul 21
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Milton Ribeiro

O arquiteto Oscar Niemeyer, de 104 anos, morreu hoje no Rio. Ele estava internado desde 2 de novembro, no Hospital Samaritano, em Botafogo. Reconhecido internacionalmente por suas obras, Niemeyer completaria 105 anos em 15 de dezembro. Sua morte foi confirmada às 21h55.

Nesta quarta-feira (5), um boletim médico informava que o estado de saúde do arquiteto havia piorado e era considerado grave. Ainda segundo o hospital, Niemeyer respirava com a ajuda de aparelhos e encontrava-se sedado por causa de uma infecção respiratória. O hospital informou também que a piora do quadro clínico do paciente aconteceu após a visita do médico Fernando Gjorup nesta quarta-feira.

Um dos brasileiros mais influentes em sua área, o arquiteto Oscar Niemeyer ou mais exatamente Oscar Ribeiro de Almeida de Niemeyer Soares, nascido em 15 de dezembro de 1907 na cidade do Rio de Janeiro. Apesar dos 104 anos de idade, Niemeyer mantinha-se ativo, tendo desenvolvido projetos mesmo nesta segunda década do século XXI. Sua celebridade não é fato recente. Em âmbito mundial, desde os anos 40 Niemeyer era reconhecido como um importante arquiteto. Sua obra é imensa, mas seus trabalhos mais conhecidos são os edifícios públicos que projetou para a cidade de Brasília.

Foto: IAB-MS

Sua longevidade dentro da arquitetura impressiona. Foram 7 décadas produzindo seus projetos leves e de linhas normalmente curvas. Se voltarmos à data de seu nascimento, o pasmo será maior. Niemeyer nasceu antes de Noel Rosa — apenas para citar outro ícone da cultura brasileira e,  quando nasceu, Machado de Assis vivia em Cosme Velho, no mesmo Rio de Janeiro.

Filho de Oscar de Niemeyer Soares e Delfina Ribeiro de Almeida, Oscar Niemeyer nasceu no bairro de Laranjeiras, na rua Passos Manuel, que receberia no futuro o nome de seu avô Ribeiro de Almeida, ministro do Supremo Tribunal Federal. Niemeyer foi profundamente marcado pela lisura da vida pública e pelo ateísmo do avô, que como herança deixou apenas a casa em que morava e cuja regalia era uma missa em casa aos domingos, apesar de ser um ateu convicto.

 

Foto: Wikicommons

Na juventude, foi boêmio, frequentando o Café Lamas, o Fluminense e a Lapa. Em suas palavras: “Parecia que estava na vida para me divertir, que era um passeio.”

Em 1928, aos 21 anos, casou-se com Anita Baldo, de 18 anos. A cerimônia de casamento na igreja do bairro atendeu aos desejos da noiva. “Casei por formalidade. Mais católica do que minha esposa é impossível, então não me incomodei em casar dessa forma”. O casal teve somente uma filha, Anna Maria Niemeyer, que lhe deu cinco netos, treze bisnetos e quatro trinetos. Anna Maria faleceu no dia 6 de junho de 2012, aos 82 anos.

Casado, Oscar trocou a boemia pelo trabalho na tipografia do pai. Mas não gostou e resolveu retomar os estudos. Em 1929 ingressou na Escola Nacional de Belas Artes, de onde saiu formado como arquiteto e engenheiro, em 1934, quando já tinha 27 anos. Idealista, mesmo passando por dificuldades financeiras, decidiu trabalhar sem remuneração no escritório de Lúcio Costa e Carlos Leão. Não lhe agradava a arquitetura comercial vigente e Oscar viu, no escritório de Lúcio Costa, uma oportunidade para aprender e praticar uma nova arquitetura.

Não me sinto importante. Arquitetura é meu jeito de expressar meus ideais: ser simples, criar um mundo igualitário para todos, olhar as pessoas com otimismo. Eu não quero nada além da felicidade geral.

Posições ideológicas

A luta política é uma das questões que sempre marcaram a vida e obra de Oscar Niemeyer. Em 1945, já um arquiteto conhecido, conheceu Luís Carlos Prestes e filiou-se ao Partido Comunista Brasileiro (PCB). Niemeyer emprestou a Prestes a casa que usava como escritório, para que este montasse o comitê do partido. Como muitos, era stalinista. Durante alguns anos da ditadura militar do Brasil autoexilou-se na França. Um ministro da Aeronáutica da época disse que “lugar de arquiteto comunista é em Moscou”. Visitou a União Soviética, teve encontros com diversos líderes socialistas e foi amigo de alguns deles. Em 2007 presenteou Fidel Castro com uma escultura de caráter antiamericano: uma figura monstruosa ameaçando um homem que se defende empunhando uma bandeira de Cuba. Em seu discurso de 2007, onde Fidel fala em aposentadoria, faz referência ao amigo Niemeyer: “Penso, como (o arquiteto brasileiro Oscar) Niemeyer, que se deve ser consequente até o final”. Esta frase foi repetida em sua carta de renúncia de 18 de fevereiro de 2008. Tem fama de ser desapegado de dinheiro e pródigo, de ter doado diversos projetos e não ter acumulado fortuna.

O arquiteto

A arquitetura de Oscar Niemeyer sempre despertou interesse internacional, a partir de sua divulgação, nos anos 1940, no livro Brazil builds, de Philip Goodwin. Esse interesse parece ter atingido seu auge no século XXI. Uma das características mais marcantes da obra de Niemeyer, que a diferencia do que fazem a maioria dos demais arquitetos, é possuir forte identidade.

Foto: IAB-MS

O uso das estruturas em concreto armado em formas curvas ou em casca e as explorações inéditas das possibilidades estéticas da linha reta se traduziram em fábricas, arranha-céus, espaços para exposições, residências, teatros, templos, edifícios-sede de empresas dos setores público e privado, universidades, clubes, hospitais e equipamentos para diversos programas sociais. Desses temas sobressaem-se os seguintes trabalhos: a Obra do Berço e sua residência na Estrada das Canoas, no Rio de Janeiro; a fábrica Duchen, o edifício Copan e o Parque do Ibirapuera, em São Paulo; o conjunto arquitetônico da Pampulha, com o Cassino, o Restaurante e o Templo de São Francisco de Assis, em Belo Horizonte; o projeto para o Hotel de Ouro Preto (Minas Gerais), o Museu de Caracas (Venezuela), a sede do Partido Comunista (Paris), a sede da Editora Mondatori (Milão), a Universidade de Constantine (Argélia) e o Museu de Arte Contemporânea de Niterói (Rio de Janeiro).

A presença constante de Oscar Niemeyer no cenário da arquitetura contemporânea internacional, desde 1936 até os dias atuais, o transformou em símbolo brasileiro. Recebeu inúmeros prêmios e possui vasta bibliografia, onde se destacam títulos de sua autoria e de Stamo Papadaki, além de várias edições temáticas das principais revistas de arquitetura do mundo.

Algumas de suas obras:

A sede do Partido Comunista Francês | Foto: Wikimedia Commons
Universidade de Constantine, Argélia | Foto: Wikimedia Commons
Detalhe do Edifício Niemeyer | Foto: Wikimedia Commons
Palácio das Artes do Ibirapuera | Foto: Wikimedia Commons
Edifício Copan | Foto: Wikimedia Commons
Capela da Alvorada | Foto: Wikimedia Commons | Foto: Wikimedia Commons
Congresso Nacional | Foto: Wikimedia Commons
Casa do Baile | Foto: Wikimedia Commons
Hospital Sul América | Foto: Wikimedia Commons
Palácio do Planalto | Foto: Wikimedia Commons
Palácio do Itamarati | Foto: Wikimedia Commons
Catedral de Brasília | Foto: Wikimedia Commons
Museu Oscar Niemeyer | Foto: Wikimedia Commons
Museu de Arte Contemporânea de Niterói | Foto: Wikimedia Commons
Centro Cultural Niemeyer (Espanha) | Foto: Wikimedia Commons

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