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28 de dezembro de 2012
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01:56

Fortunati diz que sofre ataques pessoais do PT e defende ruptura com Tarso em 2014

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Sul 21
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“Não dá para conviver com o PT em Porto Alegre. O PT virou uma oposição radical, tacanha e pessoal durante 24h por dia”, acusa Fortunati | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Samir Oliveira

O prefeito de Porto Alegre, José Fortunati (PDT), surpreendeu ao defender publicamente que seu partido tenha candidato próprio ao governo gaúcho em 2014. O pedetista fez a declaração na noite desta quarta-feira (26), durante participação no programa Conversas Cruzadas, da TVCom.

José Fortunati disse que irá usar seu peso político dentro do PDT para convencer o partido a concorrer ao governo do estado. O prefeito se mostrou indignado com críticas do PT de Porto Alegre. “Não dá para conviver com o PT em Porto Alegre. O PT virou uma oposição radical, tacanha e pessoal durante 24h por dia. Após as eleições, o PT de Porto Alegre ensandeceu, faz uma oposição com ataques pessoais. Não posso conviver desta forma. Eles escolhem seu caminho e eu escolho o meu. O meu caminho é desta forma: vou defender dentro do meu partido que não estejamos com o PT no Rio Grande do Sul em 2014”, desabafou.

Reeleito com mais de 60% dos votos e em primeiro turno, Fortunati nunca havia se manifestado publicamente sobre a eleição de 2014. O prefeito nega a intenção de concorrer – repetindo o que fez José Fogaça (PMDB) e Tarso Genro (PT), ambos derrotados quando abandonaram a prefeitura da Capital para disputar o Palácio Piratini. Fortunati garante que cumprirá o mandato até 2016, mas reforça que o PDT precisa ter um candidato à sucessão estadual.

“Pela forma como o PT vem se comportando em Porto Alegre, não tem como o prefeito desconhecer essa realidade e dizer que estaremos juntos em 2014. Não quero ser pragmático, tenho que ser coerente. Tenho que me perfilar com quem são meus parceiros”, justificou.

Fortunati garante: mesmo sendo “homem partidário”, vai defender distância entre PDT e PT em 2014 | Foto: Ramiro Furquim

O prefeito ressaltou que possui uma boa relação com o governo federal da presidente Dilma Rousseff (PT). “Apoio a Dilma. Vou deixar claro: minha relação com o PT nacional e com a administração federal é a melhor possível. Para mim, não causa nenhum problema termos uma candidatura própria ao governo do estado e apoiarmos a presidente Dilma”, manifestou.

Fortunati disse que irá fazer valer seu peso no partido para pautar sua posição. “Sou homem partidário, o que o PDT decidir, eu sigo. Mas estou anunciando que não tem como continuarmos sequer pensando em aliança com esse PT que hoje se apresenta em Porto Alegre”, reiterou.

Em nenhum momento, entretanto, Fortunati chegou a revelar com quais críticas estaria incomodado e que tipo de ataques pessoais tem sofrido. Em conversa com o Sul21, outros dirigentes petistas e pedetistas também não souberam explicar a quais episódios o prefeito estaria se referindo.

Posição de Fortunati influencia decisão do partido, dizem líderes pedetistas

Para o presidente do PDT do Rio Grande do Sul, o prefeito de Osório Romildo Bolzan Júnior, a posição pró-candidatura própria do prefeito José Fortunati influencia a decisão final do partido sobre 2014. “É uma posição influente no partido, principalmente em Porto Alegre, onde temos o maior colégio eleitoral”, reconhece.

Romildo Bolzan Jr: Fortunati está “indignado” com “críticas injustas e indigestas” | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Ele diz que não se surpreendeu com o desabafo de Fortunati. “Ele antecipou sua posição no debate interno porque está indignado com a postura do PT e vem recebendo críticas injustas e indigestas”, defende.

Bolzan Júnior evita externar sua posição pessoal quanto aos rumos do PDT em 2014, mas afirma que o partido precisa ser “protagonista”. “Penso no PDT como protagonista em 2014 e em 2018”, avisa.

O deputado federal Vieira da Cunha, presidente do PDT em Porto Alegre, entende que a reeleição de Fortunati aumentou seu prestígio dentro do partido. “A vitória espetacular dele acabou sendo a maior numa capital em todo o país e o consolidou como uma das principais lideranças nacionais do PDT. A posição do Fortunati terá um grande peso na decisão final do partido sobre 2014”, avalia.

Posição de Fortunati terá um grande peso para 2014, diz Vieira da Cunha | Foto: David Ribeiro/Ag.Câmara

O parlamentar também defende a tese de que o PDT tenha candidato próprio em 2014 e é, inclusive, um dos nomes cotados para representar o partido na disputa. Por outro lado, há uma ala do PDT gaúcho que defende a indicação de Afonso Motta, atual secretário estadual do Gabinete dos Prefeitos, para ser o vice de Tarso Genro, caso o governador confirme a intenção de concorrer à reeleição.

Petistas garantem que não fizeram ataques pessoais a Fortunati

Surpreendidos com o desabafo de José Fortunati, petistas de Porto Alegre asseguram que não fizeram ataques pessoais ao prefeito. “Sempre fizemos críticas à governabilidade, não à pessoa do prefeito”, diz o vereador Mauro Pinheiro, que será o presidente da Câmara Municipal em 2015.

Para o petista, Fortunati busca afastar PT e PDT em âmbito estadual, preparando o terreno para sua própria candidatura ao Palácio Piratini em 2018. “O prefeito já procurou o PT, porque achava que precisava da gente para vencer as eleições. Depois, fez um movimento à direita, procurando DEM e PSDB. Ele se junta com qualquer partido e esquece suas origens de esquerda. Está preocupado com 2018, porque quer ser candidato ao governo do estado. Ele mira lá na frente, querendo afastar PDT e PT em 2018”, opina Mauro Pinheiro.

Divulgação/CMPA
“Se fizéssemos críticas pessoais, a própria base aliada teria reagido”, argumenta Sofia Cavedon | Foto: Divulgação/CMPA

Crítica contundente do governo de José Fortunati, a vereadora Sofia Cavedon ressalta que sempre se opôs a um projeto, não à figura pessoal do prefeito. “Critico fortemente o modelo de flexibilização e concessão de incentivos à especulação imobiliária em Porto Alegre. O município não cobra contrapartidas necessárias ao interesse público. Essa crítica será feita fortemente, independente de coligações, porque o prejuízo é grande para a cidade”, avisa a petista.

Sofia acredita que o prefeito erra ao “identificar no PT uma oposição ao PDT”. “Há uma oposição a um modelo de governo, no qual fazem parte, inclusive, partidos que fazem oposição ao governo Dilma. Quem é que faz crítica pessoal? Somos agentes políticos. Falo do governo e de opções de governo. Não há críticas personalizadas ao prefeito”, assegura.

A vereadora qualificou como “pouco maduro” por parte de José Fortunati ter ficado “chateado” por conta de críticas da bancada petista. “Se fizéssemos críticas pessoais, a própria base aliada teria reagido. Seria pouco maduro do prefeito ficar chateado por considerar que lhe fizeram críticas”, opina.

A petista ressalta que PT e PDT “possuem muita identidade nos governos estadual e federal” e diz que “queremos continuar assim”. Entretanto, ela critica a presença do PSDB, do DEM e do PPS na coalizão de José Fortunati. “Quer queira, quer não, isso interfere no modelo de governo. É um outro espectro”, compara.

Mais cauteloso, o vereador Adeli Sell, presidente do PT de Porto Alegre, já solicitou uma reunião com o prefeito para o início de janeiro. “Achei estranho, não vejo motivos para essa crítica tão dura. Já solicitei uma reunião, é preciso conversar. Quero saber o que está acontecendo, o que foi que gerou esse pico de críticas tão pesadas ao PT de Porto Alegre. Precisamos dar chance ao prefeito para que ele explique o que lhe magoa e lhe faz propor um processo de ruptura a nível estadual para 2014”, defende.

“Precisamos dar chance ao prefeito para que ele explique o que lhe magoa e lhe faz propor um processo de ruptura”, pondera Adeli Sell | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Após o desabafo de Fortunati, Adeli pretende propor que o partido realize uma “trégua” nos 100 primeiros dias do seu novo mandato. “Talvez esperemos 100 dias para fazer uma análise mais profunda do seu governo. Não é mais o governo Fogaça-Fortunati, agora é o governo Fortunati-Melo, precisamos dar tempo”, propõe.

O dirigente petista diz que considera do PDT “um partido estratégico para 2014”. “O PDT possui o prefeito da Capital e de Caxias do Sul e é o nosso principal aliado no interior do estado”, avalia.

PT e PDT têm histórico conturbado de relações no Rio Grande do Sul

A relação entre PDT e PT sempre foi tensa no Rio Grande do Sul. Durante o governo do pedetista Alceu Collares (1991-1994), o PT era o mais ferrenho opositor na Assembleia Legislativa, tendo, à época, o então deputado estadual Flávio Koutzii como líder.

Com a chegada do petista Olívio Dutra ao Palácio Piratini, em 1999, o PDT ingressou no governo. O partido não estava na coligação vencedora, composta por PT, PSB, PCdoB e PCB.

Em outubro de 2000, o PDT rompeu oficialmente com o governo de Olívio Dutra, justamente por conta das eleições municipais em Porto Alegre. Na época, Alceu Collares havia passado para o segundo turno da disputa contra Tarso Genro. O PDT exigia que os secretários estaduais indicados pelo partido no governo Olívio fizessem campanha para Collares.

Como isso não ocorreu, o PDT entregou os cargos, retirou o apoio a Olívio na Assembleia Legislativa e disse que os dissidentes Sereno Chaise (vice-presidente do Banrisul), Milton Zuanazzi (secretário de Turismo) e Dilma Rousseff (Energia, Minas e Comunicação) não mais representavam o partido. Posteriormente, eles se filiariam ao PT. Na época, o único que entregou o cargo e permaneceu no PDT foi Pedro Ruas, que era secretário de Obras.

Em 2010, o PDT não se aliou a Tarso Genro na eleição para o governo do estado. Os pedetistas concorreram ao lado de José Fogaça, indicando o vice Pompeo de Mattos. Com a vitória de Tarso no primeiro turno, o partido acabou ingressando na base aliada e hoje ocupa a Secretaria Estadual da Saúde, o Gabinete dos Prefeitos e a Secretaria Estadual do Esporte e Lazer. Durante a campanha, o ex-governador Alceu Collares comprou briga com a direção do partido e subiu no palanque de Tarso, para quem abertamente declarou seu voto.

A eleição municipal de 2012 gerou alguns atritos, devido a críticas do PT ao prefeito José Fortunati. O deputado estadual Gilmar Sossella (PDT), chegou a subir à tribuna da Assembleia Legislativa para defender a saída do partido do governo. Agora, passado o pleito, os pedetistas decidirão como se comportarão na sucessão estadual em 2014.

Em 2013, a direção estadual do PDT realiza uma série de reuniões com as coordenações locais para discutir o tema. O partido estuda adotar três posições: permanecer no governo e apoiar a reeleição de Tarso Genro; lançar uma candidatura própria; ou se aliar ao PMDB ou ao PP, que manifestam interesse em disputar o Palácio Piratini.

A estimativa da direção estadual é que o partido tome uma decisão até novembro de 2013.


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