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11 de dezembro de 2012
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08:00

Design, cinema e jogos digitais são apostas do RS na indústria criativa

Por
Sul 21
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Design, cinema e jogos digitais são apostas do RS na indústria criativa
Design, cinema e jogos digitais são apostas do RS na indústria criativa

Felipe Prestes

Até a segunda metade da década de 1980, os móveis produzidos no Rio Grande do Sul não tinham qualquer requinte. Foi quando as empresas começaram a contratar arquitetos e designers para projetar os produtos, processo que se aprofundou nos anos 1990 e, hoje, já está consolidado. “Isto se iniciou quando a indústria moveleira sentiu a necessidade de se diferenciar de outros polos. Os empresários começaram a ir a feiras internacionais, contratar designeres de fora do país”, conta Ivo Cansan, presidente da Associação das Indústrias de Móveis do Estado do Rio Grande do Sul (Movergs) e diretor-executivo da Eko Ambientes (Multimóveis).

“Antes você imaginava o móvel, criava e saía vendendo. Quando o consumidor começou a ficar exigente a indústria gaúcha viu nisto uma oportunidade e começou a se associar com arquitetos e designers”, prossegue Ivo. O resultado disso não se refletiu necessariamente num aumento das vendas, ele explica, mas no valor dos móveis. “O impacto importante disto foi no aumento da rentabilidade. Nos permitiu investir em tecnologia, sistemas de produção, tecnologia. A criação já não é mais problema”.

Indústria criativa foi eleita pelo governo gaúcho como um dos 22 setores estratégicos para a política industrial | Foto: Gabinete Digital / Secom-RS / Divulgação

O processo que Ivo Cansan descreve, de agregação de valor com a entrada do design no setor de móveis, se relaciona diretamente com o que se convencionou chamar de indústria criativa, que foi eleita pelo Governo do Estado como um dos 22 setores estratégicos para a política industrial. “Indústria criativa é um conjunto de empresas cuja agregação de valor se dá por meio da criatividade, não da matéria-prima. Quando se vai fazer um filme, por exemplo, o que importa não é o momento em que se prensa um DVD, mas quando se cria uma cadeia de fornecedores para produzir o filme”, explica Fernando Guimarães, funcionário da Agência Gaúcha de Desenvolvimento e Promoção do Investimento (AGDI) e coordenador-executivo do programa setorial do Governo para a área da indústria da criatividade.

Costuma-se incluir neste conceito a arquitetura, a publicidade, o design, o desenvolvimento de softwares, o cinema, a música, o patrimônio cultural que movimenta o turismo, entre outras áreas. Guimarães ressalta a importância desta indústria com o exemplo da Apple: “A manufatura dos produtos da Apple é feita na China, mas só US$ 3 por produto ficam lá. O restante vai para os Estados Unidos, onde estão os cérebros que desenvolvem os produtos”.

Além disto, Guimarães afirma que é a indústria criativa é uma opção de desenvolvimento sustentável e de desenvolvimento regional. E que ela impacta em outras cadeias da indústria, como a têxtil (com o design de moda). Segundo dados do Governo, o setor criativo gaúcho movimenta anualmente R$ 5,2 bilhões, uma fatia de 5,6% de toda a área criativa do país.

Governo realizou edital inédito para indústria criativa

A Secretaria de Ciência, Inovação e Tecnologia lançou em agosto um edital para indústrias criativas, que vai destinar R$ 1,2 milhão para desenvolvimento de processo, produtos ou serviços que estejam vinculados a instituições científicas e tecnológicas (ICTs) nas áreas de audiovisual, design e novas mídias. Com audiovisual, o edital compreendeu atividades como filmes, televisão, rádio e outras formas de transmissão; em novas mídias, software, jogos digitais, conteúdo criativo digital, simulação e animação; e em design incluiu as atividades do design de moda e design de produto. “A existência do edital é inédita no país”, garante o titular da pasta, Cleber Prodanov.

O secretário explica porque os projetos, mesmo que desenvolvido por empresas, precisam estar ligadas a instituições científicas. “Nós sempre procuramos apoiar empresas ligadas a incubadoras, a universidades. É ali que se forma e se dissemina o conhecimento”. Entre as exigências do edital, o projeto precisa contemplar atividade científica e/ou tecnológica de nível avançado e de relevância para o desenvolvimento do Estado, formação e capacitação de recursos humanos, e que tenha parceria com a iniciativa privada ou com o município onde for desenvolvido.

Cleber Prodanov
De acordo com Cleber Prodanov, indústria criativa é “uma indústria sem chaminé, que gera renda qualificada para jovens” | Foto: Divulgação / SCIT-RS

Prodanov conta que a ideia do edital se consolidou após a missão do Estado que visitou a Grã-Bretanha, embora lá o fomento não se dê por editais. “Eles oferecem financiamentos públicos. Há também muitos fundos de capital de risco que investem em novas empresas que trabalham com criatividade. Aqui não há isto. Na viagem, nós observamos os acertos e também os erros deles no apoio à indústria da criatividade. Vimos em que áreas desta indústria devemos focar nosso apoio, em quais pode não dar certo. Vimos como fomentar sem dizer o que as empresas têm que fazer”, explica Prodanov.

O encerramento da fase de recebimento dos projetos ocorreu em 24 de setembro e foram protocolados na secretaria 22 propostas, de dez ICTs, que, somadas, chegam a R$ 3,3 milhões, o triplo do valor disponibilizado pelo edital. Cleber Prodanov considera que o valor do edital, de fato, foi baixo. “Foi um primeiro ensaio. No ano que vem vamos disponibilizar pelo menos R$ 5 milhões”, afirma.

Ele ressalta ainda que o Estado está perto de fechar uma parceria com o Ministério das Comunicações que vai permitir outro edital para a indústria criativa gaúcha, com o repasse de R$ 7 milhões. “Nós vamos continuar apostando muito na indústria criativa. Vamos tentar fazer com que as empresas cresçam e se organizem, que sejam criadas entidades representativas, incubadoras. É uma indústria sem chaminé, que gera renda qualificada para jovens”, diz o secretário.

Prodanov conta que a Secretaria trabalha com algumas ideias para 2013 de aplicativos que podem ser desenvolvidos pela iniciativa privada auxiliando o trabalho do Estado em outras áreas, como a Educação e os preparativos para a Copa do Mundo. “Podem ser feitos jogos educativos que sejam instalados nos computadores que o Governo está distribuindo a alunos da rede pública. Também podem ser feitos aplicativos voltados para a Copa do Mundo, auxiliando os turistas”, exemplifica.

Produção de jogos digitais para dispositivos móveis é uma das áreas ligadas à indústria criativa na qual RS alcança destaque | Foto: Unisinos / Divulgação

Após análise técnica, os projetos com maior pontuação, conforme critérios estabelecidos nos dois editais lançados conjuntamente em agosto, estão sendo conveniados até o final deste ano para, então, receberem os recursos. Como os convênios ainda não foram fechados, a Secretaria não divulga os projetos vencedores, mas deve fazê-lo nos próximos dias.

FEE está realizando mapeamento da indústria criativa gaúcha

Uma das várias ações tiradas do grupo de trabalho que discutiu a política industrial para a área foi a encomendar à Fundação de Economia e Estatística (FEE) um mapeamento da indústria criativa no RS. “Poderemos ter uma visão sobre onde estão os nossos trabalhadores desta indústria espalhados pelo Estado. A partir disto, vamos poder propor ações mais específicas”, explica Fernando Guimarães.

Do grupo de trabalho, que teve discussões com a iniciativa privada, trabalhadores e academia, já se pode tirar algumas conclusões sobre as potencialidades do Rio Grande do Sul, que estão na educação, por exemplo. “Temos capacidade para formar 35 mil trabalhadores da indústria criativa por ano no Estado. Alguns cursos estão entre os melhores do país, como o de Música da UFRGS, Comunicação da PUCRS. Além disto, Porto Alegre é a única capital a ter três cursos de mestrado e um de doutorado em Design”. Outra área da indústria criativa em que o Rio Grande do Sul se destaca é na produção de jogos digitais para dispositivos móveis, como os smartphones.

Tendo isto em vista, a atração de grandes produtoras de jogos digitais é um dos focos da AGDI. “Elas não querem apenas vender seus jogos no Brasil, mas criar jogos que dialoguem com a nossa realidade. Porto Alegre está no Top3 do Brasil nesta área e é forte candidata a receber estes investimentos”, garante Guimarães.

Em agosto, governador Tarso Genro participou do lançamento de editais de apoio às Incubadoras de Base Tecnológica e de Indústria Criativa | Foto: Caco Argemi / Palácio Piratini

Outro foco é em criar uma grande cadeia de fornecedores para a indústria audiovisual. “Filmes precisam da montagem de cenários cenográficos, de grandes estruturas de iluminação, de captação de áudio”, explica o coordenador do programa setorial de Indústria Criativa. Uma das medidas para a atração desta cadeia é a criação de uma Cine Commission estadual. O objetivo deste órgão é promover e fomentar o setor e também auxiliar em questões burocráticas, como autorização para gravações mais complexas em locais públicos, que envolvem o fechamento de ruas, por exemplo.

Outra medida que deve atrair investimentos na área audiovisual para o Estado é que o BNDES decidiu descentralizar os repasses do Fundo Setorial Audiovisual (FSA) por entender que os recursos estavam ficando concentrados no centro do país. O BRDE vai ser repassador destes recursos na Região Sul em um projeto piloto, que pode ser espalhado para outras regiões do país. O foco será na produção de programas que possam atender a demanda por conteúdo nacional que passou a vigorar com a lei que criou cotas de produção brasileira nos canais de televisão fechada. O Estado também pretende criar um cluster (concentração de empresas de um mesmo ramo) audiovisual na PUCRS, com uma infraestrutura de estúdio compartilhada e aprimorada por várias empresas.

No setor audiovisual, a AGDI também também visa consolidar um arranjo produtivo local na Região Metropolitana. O apoio é para que haja um plano de desenvolvimento compartilhada e uma governança entre os atores desta área. Arranjos produtivos locais na indústria criativa também estão sendo apoiados na Serra, com o setor da Moda, e em Soledade, com a produção de gemas e joias. Em ambos, o objetivo é também criar um plano de desenvolvimento conjunto e uma governança.


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