Colunas>Mogli Veiga
|
17 de dezembro de 2012
|
11:25

Cristina Kirchner x El Clarín: A verdade

Por
Sul 21
[email protected]

A imprensa noticia com destaque, a disputa política-jurídica travada entre o maior Grupo Jornalístico argentino – El Clarín, e o Governo de Cristina Kirchner. No Brasil as nptícias são sempre colocando o governo na pele do lobo mau e o El Clarín como a vovozinha indefesa.

Para quem não conhece a história, que não começou agora, mas em 1969, pelas notícias veiculadas, principalmente pela grande imprensa brasileira, vide Rede Globo, fica com a impressão de que o governo Kirchner é autoritário e quer acabar com a chamada “imprensa livre”.

Um dia útil em Buenos Aires. Saio caminhando pela Calle Santa Fé e entro numa pequena e aconchegante livraria. Pergunto pela estante com livros sobre a história recente argentina. Neste momento começou a abrir a cortina do palco e descortinar a verdade sobre a guerra que se trava até hoje.

Durante a ditadura de Juan Carlos Onganía, o governo criou o Fundo para o Desenvolvimento da Produção de Papel e Celulose, que deu origem à criação da empresa Papel Prensa, com o monopólio da produção e importação de papel-jornal.

Em 1972, já no governo do Gal Alejandro Lanusse, a Papel Prensa foi entregue aos seus novos sócios, entre eles César Augusto Civita e a Editorial Abril S/A.

Entra em cena o personagem David Graiver. Filho de judeus imigrados da Europa, cuja família se instala em La Plata e atua no ramo imobiliário. Graiver trabalho na área econômica do governo com Hector Cámpora.

Esta sua posição no governo e com o enriquecimento da família, Graiver investe no setor financeiro, abrindo uma rede bancária que viria a ter sede em Bruxelas, com filiais na Argentina, Israel e Estados Unidos. Graiver também foi sócio de Jacobo Timerman, jornalista, fundador de jornais e perseguido pela ditadura militar instalada em 1976.

No governo Perón, em 1973, este segreda a Graiver que queria expulsar os “judeus” brasileiros da Argentina. Referia-se aos Civita e Raymond Safra, um poderoso banqueiro. Perón dizia que eles iriam controlar o poder no país, pois eram proprietários de dois setores estratégicos: imprensa e financeiro. Para tanto intermediou a venda da Papel Prensa para David Graiver através de testas de ferro.

Surge sobre as luzes do palco o Grupo Revolucionário Montoneros, nascido nos anos 60, e se dedicou à guerrilha urbana a partir de 1970.

Em 19 de setembro de 1974, os Montoneros realizam uma de suas mais importantes ações revolucionária que foi o sequestro dos irmãos Jorge e Juan Born, descendentes do maior acionista do grupo Bunge & Born, que naquela época era o maior conglomerado produtor e exportador cerealista argentino. Juan foi libertado ficando Jorge como refém dos Montoneros até que as negociações do resgate fossem concluídas. O sequestro rendeu US$ 64 milhões. Mas como e o que fazer com o dinheiro.

Neste tempo, Graiver já circulava no circuito Genebra, Bruxelas, Tel-Aviv e Nova Iorque, cuidando e ampliando seus negócios financeiros. Já estava com sua segunda mulher Lidia Papaleo. Instalou-se definitivamente em Nova Iorque, pois dizia que um banqueiro só seria forte e respeitado se tivesse como base de seus negócios na cidade que nunca dorme.

Sua mulher Lídia tinha uma relação antiga com membros dos Montoneros e, através dela o grupo fez contato com Graiver. Os contatos com Graiver eram feitos por Roberto “Negro” Quieto e Rodolfo Galimberti. Por intermédio deles, foi entregue US$ 17 milhões com o objetivo de “esquentar” o dinheiro.

Como se vivia tempos de guerra-fria, a CIA monitorava toda a América Latina e dava apoio de todos os tipos às ditaduras militares. Nesse processo foi descoberta a ligação Graiver-Montoneros.

Graiver havia levado sua família para morar no México, em Acapulco. Toda sexta-feira pegava um avião em Nova Iorque e ia passar o final de semana com a mulher e seus filhos. A CIA, seguindo seus passos planejou um “acidente” com o avião de Graiver, matando-o.

Toda sexta-feira, sua secretária reservava, em voo de carreira, uma passagem para o México, voltando na segunda. Em uma sexta, Graiver foi almoçar com seu parceiro e amigo José Klein, onde trataram de negócios, pois Graiver já estava sendo asfixiado devido à descoberta de sua ligação com os Montoneros. Quando telefonou à sua secretária perguntando pelo voo, esta lhe informou que não havia lugares, estavam todos lotados. Graiver mandou que ela fretasse um jato particular. Estava montado o atentado. O avião caiu próximo ao aeroporto, já em território mexicano.

Com isto os negócios de Graiver foram à bancarrota.

Sua família retorna à Argentina para retomar os negócios de Graiver. Entretanto, a ditadura sanguinária comandada por Jorge Rafael Videla prendeu sua mulher Lidia fazendo-a passar por vários constrangimentos e torturas até se convencer de entregar o controle da Papel Prensa.

Ganha um prêmio para quem acertar que assumiu o controle? Estava na cara: EL CLARÍN, LA NACIÓN E LA RAZÓN, os três maiores diários da Argentina. Uma parte minoritária das ações ficou com o Estado Argentino.

Que maravilha para os ditadores: eles com o poder de vida e morte sobre as pessoas e a imprensa cordeirinha a propagandear os feitos militares segundo sua vontade. Perfeito, até que um dia a casa caiu. Veio a redemocratização, as Madres de La Plaza de Mayo, os Direitos Humanos, a opinião pública argentina e internacional e denunciam esta manobra dos militares com o Grupo Clarín feita à base de prisões e pressões de toda ordem.

O governo Kirchner está restaurando a verdadeira história de uma guerra que a imprensa golpista tenta vender como supressão da liberdade de imprensa, mas que não passa de uma ópera bufa, com todo requinte de teatro besteirol.

Por falar nisto, até hoje não li nem assisti uma linha sobre esse assunto na imprensa nacional. Por que ela não foi a fundo nessa história?

Tudo está relatado no livro de Juan Gasparini – David Graiver: El banquero de los montoneros, Editorial Norma, Argentina, 2010, e que aqui reproduzo sua biografia pelo próprio www.juangasparini.com

Juan Gaspari, conocido periodísticamente como Juan Gasparini. Nació en Azul, provincia de Buenos Aires, Argentina, el 30 de abril de 1949. Reside permanente desde 1980, en Ginebra, Suiza, donde está acreditado como periodista en la sede europea de Naciones Unidas y ante la Confederación Helvética. Es miembro del sindicato de periodistas Impressum e integra la organización no gubernamental (ONG) Nuevos Derechos del Hombre (NDH), la cual defiende los principios, convenciones, pactos y recomendaciones de Naciones Unidas en materia de derechos humanos.”

Mogli Veiga, engenheiro, aventureiro e pesquisador.


Leia também
Compartilhe:  
Assine o sul21
Democracia, diversidade e direitos: invista na produção de reportagens especiais, fotos, vídeos e podcast.
Assine agora