Colunas>Marcelo Carneiro da Cunha
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14 de novembro de 2012
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07:37

Veja e o novo nazismo

Por
Sul 21
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Estimados sulvinteumenses, cá estou, de volta a SP na chuva, uma experiência mística. Voltei agorinha de nossa estimada Porto Alegre no calor de novembro, sempre uma experiência igualmente mística.

Do lado bom do misticismo porto-alegrense, o inacreditável Patissier. Lá, cercados por tudo que o mundo tem de melhor, e isso inclui as empanadas e a montanha de carolinas de baunilha criados pelo chef Marcelo Gonçalves em pessoa, Baronesa Carneiro da Cunha, famílias e amigos festejamos o primeiro aniversário do nosso infante Manuel, o Venturoso.

Do lado menos agradável do misticismo porto-alegrense, tive o prazer de enfrentar o inferno terrestre produzido pelas inapetências combinadas da nossa nobre EPTC com a Infraero, encontro de titãs, que resulta no nosso triste e azulado aeroporto Salgado Filho. Já pensaram em chegar à noite e terem que enfrentar uma fila insana de pessoas tentando pegar táxi, na combinação de um show naquele local de espetáculos em frente ao aeroporto e as pessoas que chegam nos mais diversos voos e na mesma hora ao mesmo aeroporto?

Em qualquer cidade minimamente gerida, vocês não iriam esperar uma fila de táxis para os usuários de lá, e outra para os de cá? Onde isso não acontece? Na mesma cidade onde você tenta sair da área de desembarque – porque quem desembarca quer sair – pela mesma porta por onde outros tentam entrar e diante da qual está a tal fila de pessoas para os táxis.

No Salgado Filho, a fila dos táxis, que poderia ficar uns 10 metros para a esquerda, liberando a passagem, fica DIANTE da porta. Eu admiro a incompetência em estado bruto, caros leitores, mas não assim, tão bruto.

No mesmo aeroporto, pessoas estacionam os carros diante da área de desembarque e vão embora, tomar chazinho, ou fazer alguma coisa importante. Ninguém fiscaliza, ninguém diz que é feio e não pode, e o resultado, e não poderia ser outro, é um inútil e evitável pandemônio. Parabéns EPTC, parabéns, Infraero. Ninguém, mesmo, faria pior.

E na hora de voltar e apenas suingando no Twitter para ver o que rolava no mundo sür Mampitubá, fui levado ao incrível texto do editor e colunista da VEJA José Roberto Guzzo, que vocês podem ler aqui.

O texto, como o, digamos, pensamento por trás do texto, é desprezível.

Eu sou naturalmente a favor da liberdade de expressão, me beneficio dela regularmente aqui nesse sacrossanto espaço, e ela é fundamental e precisa ser protegida, inclusive do politicamente correto, que transforma o mundo em um bando de indignados. Mas uma coisa é uma coisa, e outra coisa é outra coisa. Proibir um texto como esse, jamais. Mas chamá-lo, a ele e seu autor, pelo que ele é, sempre. E ele é desprezível.

Ele é desprezível porque vai contra um eixo fundamental e acima do debate ideológico, que é o necessário eixo do humanismo. Fora dele, sobra a barbárie, e esse texto é um exemplo saltitante do que estou falando.

A VEJA e seus editores e colunistas detestarem o PT, é algo absolutamente natural. A VEJA usar de seu espaço para criticar e atacar os governos e governantes petistas, algo tão natural quanto a Carta Capital fazer o trabalho inverso, talvez com menor impacto.

A VEJA negar a seres humanos o seu direito constitucional e humano à igualdade e ao respeito, é desprezível. Em bom latim e má divisão silábica, des-pre-zí-v-e-l.

Ninguém tem o direito de encurralar uma minoria e deixa-la exposta ao ódio público dos maus humanos entre nós. Ninguém tem o direito de chamar uma minoria de baratas e dar facões para o outro lado, sabendo muito bem o que vai acontecer. Ninguém tem o direito de manipular ou fortalecer preconceitos existentes e justificá-los por alguma tecnicalidade, sabendo muito bem que isso somente irá tornar ainda mais difícil a vida de quem nasce do lado de lá de algum muro intransponível, a não ser pela nossa compreensão de que muros existem para ser colocados abaixo.

O nazismo fez isso com os judeus, com os ciganos, com os gays. Com os socialistas, comunistas, e eslavos.

Ao atacar publicamente uma minoria, utilizando o poder de fogo de um veículo de massa, você está colocando milhares, milhões de pessoas em uma situação insuportável. Eles jamais deveriam precisar se defender do que não necessita de defesa, e, graças a uma coluna, um editorial, um texto demente, se sentirão pressionados e atingidos e maltratados, mais uma vez, inutilmente, injustamente.

Eu sou heterossexual, minha Baronesa é heterossexual, e isso não me faz sentir um miligrama menos ofendido e atacado do que qualquer homossexual está se sentindo nesse momento e nesse país. Isso, muito simplesmente porque ao contrário desses nazistas, eu sou um ser humano, e o ataque injusto a outro ser humano é sim, um ataque a mim, ao senhor aqui ao lado, ao caro leitor que me lê, a quem quer que viva e respire do lado certo do mundo, que é o lado das pessoas, da vida, do sentimento de que existe sim uma beleza a ser obtida e preservada, e que se ela ainda não está do jeito que deve estar, isso significa tão somente que ainda temos trabalho pela frente, e nada mais.

O meu trabalho, caros leitores, não vai terminar enquanto esse tipo de comportamento desprezível ainda acontecer em um ambiente de relativa normalidade. O que eles querem, é fazer o monstruoso parecer normal. Do nosso lado, se vocês estão do meu lado, a nossa missão é não deixar. Simples assim, infinitamente assim.

Agora, é com vocês.


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