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28 de novembro de 2012
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18:02

Um novo ciclo?

Por
Sul 21
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Falta muito para as próximas eleições à Presidência da República. Dilma, afinal, está no meio da viagem. Mas se as eleições fossem hoje ela seria uma séria candidata à reeleição. Para um “poste”, como diziam ela ser, sem luz própria, chegou muito longe. O IBOPE acaba de divulgar uma prévia de preferência eleitoral, publicado no Estado de São Paulo no último dia 25, que pouca gente notou. Vejamos:

PESQUISA IBOPE PARA PRESIDENTE: NOVEMBRO-2012

1. Se a eleição para presidente fosse hoje, em quem votaria (espontânea): Não sabe/não respondeu 40%, Dilma 26%, Lula 19%, Serra 4%, Branco/Nulo 4%, Aécio 3%, Marina 2%, outros 2%;

2. Pesquisa Ibope (estimulada): Dilma 58%, Marina 11%, não sabe/não respondeu 11%, Aécio 9%, branco/nulo 8%, Eduardo Campos 3%.

Na verdade, esta pesquisa lança mais lenha no fogo das “veleidades” dentro do PT. Diz-se que algumas lideranças superiores do Partido não estão muito satisfeitas com as evasivas da Presidenta diante do “Mensalão”, agravadas com a vacilação dela em se envolver mais a fundo na campanha de Haddad para a Prefeitura de São Paulo. As tensões não teriam alcançado, ainda, as relações de Dilma com Lula, aparentemente inabaláveis. Mas o futuro, diz o povo, a Deus pertence.

O que é real, mesmo, é que a História vem em ondas, como o mar. E a grande onda que se seguiu à redemocratização, cujo epicentro pode ser localizado no remoto ano de 1978, está chegando ao fim. Naquele ano, enquanto o regime militar dava sinais de recuo, num lento, seguro e gradual processo de distensão controlada, emergiam três grandes atores da renovação: Fernando Henrique Cardoso, Leonel Brizola e Lula, cada qual com seu cacife, defeitos e virtudes.

FHC era o mais visível: um intelectual de esquerda prestigiado pelas elites, com um grande capital na inteligência e mortal pecado na vaidade. Brizola em andanças pela Europa, reapresentava-se como herdeiro do trabalhismo tolhido pelo Golpe de 64, com grande experiência e potencial eleitoral, embora marcado pelo estilo excessivamente autoritário para a conjuntura pós-moderna que então se abria. Lula era um enigma que resplandecia na crista do novo sindicalismo do ABC, com forte apoio da Igreja e insondável magnetismo, que era, ao mesmo tempo, sua virtude e vício.

Ao final de 1979, promulgada a Anistia, todos já estavam em campo, com seus Projetos alinhavados: FHC, que alimentara a ilusão de liderar um novo partido socialista refluíra para o MDB, ao preço de uma espécie de suplência (sublegenda) de Franco Montoro para o Senado, nas eleições de 1978, registrando o recuo da esquerda para os liberais no clássico “O caminho das Oposições”. Daí assumirá, em 82, o Senado, dando o salto “à esquerda” (!) para o PSDB, levando junto combativos e insuspeitos quadros como João Gilberto, Euclides Scalco e Sigmaringa Seixas, todos deputados federais. Brizola havia lançado o PTB em junho de 1979 na famosa Carta de Lisboa, da qual, aliás, sou dos últimos signatários. A seu pedido, a propósito, passei as Festas de Natal e Reveillon de 1980 às portas do Tribunal Superior Eleitoral, em Brasília, com toda a papelada do registro do PTB para garantir a primazia no Protocolo, tal como, aliás, registrou em primeira página a foto do JB do dia 03 de janeiro de 1980. Não adiantou, perdeu a sigla para Ivete, chorou a rasgar as letras históricas e lançou-se à dura fundação do PDT. Lembro tais fatos apenas como depoimento, visto não ter encontrado nas últimas biografias do Velho Caudilho apropriadas informações. Lula preferiu o difícil caminho do partido próprio, também, e andou pelo país inteiro à cata de movimentos sociais e lideranças populares emergentes para a fundação do PT.

Dos três, Brizola foi o grande perdedor, não em causas, mas em resultados. Veio a falecer em 2004 sem chegar à Presidência, já percebendo que seu Partido de desfibrava como mais uma legenda de aluguel. Lula, com o PT ocupou o espaço da esquerda, consagrando-se o condutor de uma era de mudanças modestas mas importantes, depois de 2003, ainda em curso, embora por mãos “alheias”. FHC, que fora perdendo espaço à esquerda ao longo da década de 80 para Lula e Brizola, travestiu-se em reformador do conservadorismo, desgastado pela ditadura, que lhe deu suporte e apoio eleitoral para dois mandatos na década de 90, vindo, entretanto, a ser, até hoje, o centro de referência da dita “direita” no país.

Evito referir-me a outros nomes, expressivos de tendências ideológicas àquela época, seja de Ulysses Guimarães, à testa dos liberais, ou Roberto Freire, herdeiro do glorioso Partidão, por uma única razão: ambos estavam mergulhados na tese da UNIDADE DAS OPOSIÇÕES, que os retiraria do proscênio como renovadores.

Enfim, o grande ciclo da política brasileira iniciado em 1978, que teve momentos marcantes nas eleições de 1982, na Constituinte, nas Diretas de 1989, na eleição de FHC em 1994 e 1998 e de Lula em 2002 e 2008, com repique em Dilma em 2010, está se esgotando. Dilma, aliás, é o último elo de ligação entre o tempo que se esvai e outro que se anuncia. Brizola foi-se, sem deixar herdeiros. Poucos acreditam num agiornamento de FHC ou Lula, ambos, também, sem herdeiros “legítimos”. Ambos, acabarão, ainda, chamuscados pelos desdobramentos inevitáveis do “Mensalão”. As últimas eleições , com a diversidade de expoentes ao longo do país, parece indicar este novo tempo. Quem viver verá…

Paulo Timm, 65, é economista, Pós Graduado ESCOLATINA , Universidade do Chile e CEPAL/BNDES, Ex Presidente do Conselho de Economia DF – Professor UnB
Email – [email protected]


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