Rachel Duarte
Menos de uma semana depois da saída do ex-secretário de Infraestrutura e Logística do Rio Grande do Sul (Seinfra-RS), Beto Albuquerque (PSB), o diretor-geral do Departamento de Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer), José Francisco Thormann pediu demissão do cargo. Se antecipando à exoneração sugerida pelo governador Tarso Genro (PT) no começo desta segunda-feira (26), o diretor emitiu ofício solicitando o desligamento do Daer. À tarde, em coletiva de imprensa, o atual titular da Seinfra-RS, Caleb de Oliveira, disse que os fatos apontados contra o diretor não têm relação com a saída de Beto Albuquerque. “Quando o deputado disse que não confiava nele (Thormann) era em função das dificuldades nas relações de trabalho e ritmo no andamento das questões da área”, afirmou.
Em sua saída, na última quarta-feira (21), Beto Albuquerque disse que, ao deixar a pasta, algumas coisas iriam mudar. Poucos dias depois, o indicado do Partido dos Trabalhadores para uma das autarquias com maior volume de recursos no governo foi acusado, em matéria veiculada no jornal Zero Hora, de realizar viagem à Suíça às custas de uma empresa subcontratada para obras na Rota do Sol e de obter procuração de amplos poderes para atuar em nome de uma consultoria privada.
Sem entrar no mérito das acusações, que serão investigadas pelo Ministério Publico do RS, o secretário Caleb de Oliveira limitou-se a dizer que Thormann “não é mais diretor do Daer”. Segundo o secretário, a recomendação do governador era de exonerar o diretor-geral, mas ele fez um gesto de pedir demissão. O ofício já tramita na Casa Civil e o procedimento em breve será publicado no Diário Oficial do Estado.
Interinamente um funcionário de carreira da área da engenharia, que já atua em função de direção, assumirá o Daer. Em no máximo dez dias, o nome definitivo deverá ser divulgado. Independente do resultado das investigações contra o ex-diretor, segundo Caleb de Oliveira, a intenção do governo era blindar a imagem da autarquia. “Para além de qualquer coisa se confirmar, já bastaria o fato de que a prestação de esclarecimentos poderia prejudicar o Daer. As denúncias têm peso razoável e o governador entendeu que era preferível evitar prejuízos”, afirmou.
Sobre as denúncias, resumiu-se a dizer que não há provas para além do conteúdo da reportagem. “Eu só vi o que está na imprensa e pelo que foi divulgado não dá para chegar a uma conclusão. O governo não saiba de nada. Se alguém do governo sabia, deveria ter avisado a todos”, disse.
A matéria afirma que houve troca de e-mails entre Thormann com a gerente da empresa Geobrugg AG no Brasil, que confirmaria a oferta da viagem do diretor ao exterior com as despesas pagas pela companhia. “Pelo que li não vejo mais do que um fato concreto, supondo ainda que se confirme, da existência de participação de empresa privada, o que é vedado. Mas eu não vi a procuração. E em relação a viagem a mesma coisa. Foi uma viagem técnica que ele (Thormann) disse a mim que não viu problema por não ter realizado nenhuma operação com a empresa no período todo de sua gestão”, conta o atual titular da Seinfra-RS.
Oliveira disse ainda que viagens são procedimentos comuns nas gestões públicas e privadas. “Quando se quer divulgar um produto, as empresas convidam para palestras e demonstrações. Os produtos às vezes estão instalados em locais que é necessário a visita. Não há problema nisso. Mas há limites para não configurar vantagens”, ressaltou.
Segundo o secretário, em conversa com o diretor nesta segunda, após acatar a recomendação do governador para exoneração, Thormann demonstrou tranquilidade em relação às duas acusações. A oposição governista não perdeu tempo e, segundo o deputado Jorge Pozzobom (PSDB), o governo deverá prestar esclarecimentos sobre as acusações. “Não vejo problemas em prestar esclarecimentos, mas temos que analisar sob que termos”, disse Caleb.
“A transversalidade existe. O que houve foi questão isolada”, diz atual secretário
Apesar dos evidentes conflitos internos entre PSB e PT dentro da Secretaria de Infraestrutura e Logística, o atual secretário negou quaisquer problemas em relação à transversalidade no governo. “A transversalidade existe. O que houve foi uma questão localizada e não o envolvimento de siglas. A maioria dos diretores dentro da Secretaria não pertence ao PSB. E, em outra áreas mais siglas dividem os espaços e convivem normalmente”, falou Caleb de Oliveira.
Segundo ele, o futuro nome deverá ser do PT, mas deverá ser decidido após consenso dos petistas com o secretário. “O nome deverá agradar a todos. O secretário, mais do que o PSB, analisará o nome. Será analisado um conjunto de coisas, mas é claro que o secretário gostará de ser consultado caso haja indicação de outros partidos da coligação”, alertou.
O arquiteto José Francisco Thormann estava no cargo desde setembro de 2011.
