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9 de outubro de 2012
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21:58

Jovem estuprada na Ufrgs é terceiro caso no ano; investigação não começou

Por
Sul 21
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Jovem estuprada na Ufrgs é terceiro caso no ano; investigação não começou
Jovem estuprada na Ufrgs é terceiro caso no ano; investigação não começou
Caso envolvendo jovem de 22 anos ocorreu no Campus do Vale da Ufrgs | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro / Sul21

Rachel Duarte

Agredida a socos e amarrada sem roupas em um matagal do interior do Campus do Vale da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), uma jovem de 22 anos foi a terceira vítima de estupro na instituição em 2012. O histórico de casos teve início, segundo dados oficiais, ainda em 2003, quando o agressor foi preso em flagrante uma semana depois, praticando o mesmo crime com outra vítima, fora da universidade. O caso mais recente, registrado na última semana na 21ª Delegacia de Polícia, foi registrado como ‘roubo a pedestre’, um dos motivos que impede a investigação por parte da Delegacia da Mulher.

A ausência do registro das ocorrências é a principal causa da obscuridade dos casos. Por envolver uma violação sexual e agressões físicas, a vítima tende a ficar traumatizada e com receio da denúncia. De acordo com a delegada da 15ª DP, Shana Muller que recebeu a ocorrência logo do registro da vítima, o caso “foi encaminhado para a Delegacia da Mulher”.

A titular da Delegacia da Mulher, Nadine Anflor, disse que o fato ocorrido no campus na última quinta-feira (8) “será investigado” e o encaminhamento estava sendo feito pela adjunta Marina Goltz. “Eu ainda não recebi o encaminhamento oficial da ocorrência e das imagens do circuito de segurança interna da universidade, que auxiliará na investigação”, disse a adjunta.

A Coordenadoria de Segurança da Ufrgs repassou as imagens à Policia Civil e Brigada Militar ainda na última semana, logo após o fato. “Repassamos até para imprensa. Quanto mais divulgarmos, melhor para tentar identificar o suspeito”, disse o coordenador Daniel Pereira. Segundo ele, o agressor não ingressou no campus junto com a vítima e passou a segui-la em dado momento do seu percurso ao local de trabalho, no Instituto de Geociências da Ufrgs. “Ela é recepcionista daquele prédio, que funciona em horário diferenciado na universidade”, explicou.

O crime ocorreu por volta das 10 horas e a vítima é funcionária de uma empresa terceirizada que presta serviço de portaria para a universidade. A jovem caminhava por uma das ruas de acesso ao prédio da administração, quando foi atacada por um homem negro, de cabelos crespos, com aparência de cerca de 30 anos de idade. No depoimento à polícia, a funcionária contou que ficou desacordada após um soco e foi arrastada para o mato, dentro do campus.

Ao retomar a consciência, estava amarrada por fios de telefone em uma árvore, sem as roupas e com a boca vedada com fita isolante. O estupro não foi consumado devido a barulhos de pessoas nas proximidades, consta na ocorrência. O laudo do exame de corpo delito ainda será investigado pela Delegacia da Mulher.

A delegada Marina Goltz alerta que, sem a confirmação do estupro, ficará difícil a investigação por parte da Delegacia da Mulher. Porém, explica que a violação sexual é caracterizada mesmo não ocorrendo penetração. “É conjunção carnal ou qualquer outro tipo de ato libidinoso. Não tivemos acesso aos laudos para poder confirmar isso. Mas o estupro é um crime que fica condicionado à denúncia das vítimas. Sem registro, não temos como investigar”, disse.

O coordenador de Segurança da UFRGS, Daniel Augusto Pereira, que prestou os primeiros socorros à vítima e a encaminhou à Delegacia conta que ela descreveu a tentativa de estupro e não soube dizer o porquê o registro foi feito como “roubo a pedestre”. “Pode ter sido um registro de alguém despreparado ou alguém que interpretou assim mesmo, que não houve nada. Mas ela relata a tentativa de estupro”, salientou.

Tentativa de estupro não foi caso isolado 

O caso da última quinta-feira não é o único de suposto estupro no Campus do Vale da Ufrgs. Mais do que boato ou uma lenda urbana, os casos de violência são reais e acabam não tendo repercussão ou chegando ao conhecimento público. O Diretório Central dos Estudantes (DCE) está discutindo o assunto nesta semana e cobrará o reforço na vigilância universitária. “Aconteceram outros casos e pela falta de divulgação ficam no anonimato. No começo do semestre aconteceu outro. Então em poucos meses já são dois”, fala a dirigente do DCE Paola Rodrigues.

Campus do Vale é coberto de vegetação e com áreas pouco movimentadas - situação, segundo a Assufrgs, potencializada por cercamento | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

O coordenador de Segurança confirma o caso ocorrido em julho deste ano. “Foi uma mulher, sem vínculos com a universidade. Ela usa o campus para fazer caminhadas e foi forçada a entrar em um veículo. Foi encontrada em Viamão. O agressor foi identificado e apareceu morto pouco tempo depois”, relatou. De acordo com Pereira, os episódios são reflexos da violência da sociedade e da cidade de Porto Alegre, não uma realidade localizada apenas no Campus do bairro Agronomia. “Não estamos imunes, apesar de termos avançado para o cercamento do campus”, contou.

“Cercamento contribuiu para o esvaziamento do campus e aumento da insegurança”, critica Assufrgs

Na opinião da professora Bernadete Menezes , da Associação dos Servidores da Ufrgs (Assufrgs), o cercamento é um dos problemas para a insegurança da comunidade acadêmica. “Temos que aumentar a relação comunitária e não nos isolar. Ocupar o espaço público auxilia na intimidação dos criminosos. Quanto mais pessoas, menor a insegurança”, acredita. Segundo ela, a entidade solicitou ampliação das câmeras de segurança no Campus e reforço da iluminação. “As pessoas da comunidade em frente ao campus têm que poder transitar na universidade também. Elas utilizam os caixas eletrônicos de bancos, correios e outros serviços. Tem que haver também espaço de convivência universitária para os alunos”, diz.

A Assufrgs também cobra a realização de concurso público por parte do governo federal para ampliar os vigilantes de segurança. O número de seguranças que presta serviço dentro do Campus do Vale da Ufrgs não foi revelado à reportagem, mas segundo o coordenador da área, o efetivo insuficiente é compensado com a empresa de segurança terceirizada. “O governo federal, não a Reitoria, decidiu não realizar mais concurso para acabar com a vigilância universitária em 1992”, disse Daniel Pereira.

A UFRGS pretende intensificar as patrulhas pelo Campus do Vale. A vítima da última semana está recebendo assistência psicológica, de acordo com a Universidade.


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