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25 de setembro de 2012
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08:45

Fórum Palestina Livre quer que Brasil corte relações comerciais com Israel

Por
Sul 21
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Governador Tarso Genro participou de coletiva para anúncio do evento, que ocorrerá de 28 de novembro a 1º de dezembro | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

Rachel Duarte

Pela primeira vez em 60 anos de ocupação da Palestina por Israel, o tema será o foco de um encontro altermundista. Movimentos sociais da América Latina foram convidados a discutir, no Brasil, a realidade do povo palestino. De 28 de novembro a 1º de dezembro ocorrerá o Fórum Social Mundial Palestina Livre (FSMPL), em Porto Alegre. Organizações internacionais e pessoas que apoiam o fim da ocupação israelense e da colonização das terras árabes estarão discutindo formas de intervenção para promover justiça e paz na região. Os porta-vozes do povo palestino que apresentaram o evento nesta segunda-feira (24) relataram a situação em que vivem os palestinos nas terras que lhe foram retiradas. Eles esperam que o evento funcione como uma pressão coletiva aos governos que mantém relações comerciais com Israel.

O Comitê Preparatório do Fórum Social Mundial Palestina Livre é constituído por 36 movimentos sociais, sindicatos e ONGs, com o apoio das comunidades palestinas no Brasil. O Comitê Nacional Palestino trabalha em conjunto com as forças políticas palestinas da Faixa de Gaza e da Cisjordânia, cidadãos palestinos em Israel e refugiados. O Comitê foi articulado durante o Fórum Social Temático, realizado em Porto Alegre, em janeiro de 2012.

Com realização da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e apoio do governo do Estado do Rio Grande do Sul, o evento reunirá por três dias pessoas importantes ao longo da história de luta e resistência do povo palestino, como a mãe de Rachel Aline Corrie, ativista estadunidense que integrava o Movimento de Solidariedade Internacional (International Solidarity Movement), morta esmagada por um tanque das forças militares de Israel enquanto tentava bloquear a destruição de uma casa palestina. Estarão presentes também o político brasileiro e cartunista Carlos Latuff, o escritor e ativista paquistanês Tariq Ali e a filha mais velha de Che Guevara, Aleida Guevara.

A intenção do evento é criar ações efetivas para assegurar a autodeterminação palestina, a criação de um Estado Palestino tendo Jerusalém como capital e o respeito aos direitos humanos e ao Direito internacional.

“Israel não paga o preço dos danos que causa", diz deputada palestina Haneen Zoabi | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

“Não há pressão internacional sobre Israel”, diz deputada palestina

Uma das poucas parlamentares palestinas no Congresso de Israel, Haneen Zoabi disse na coletiva de apresentação do Fórum que o principal é poder conscientizar a comunidade internacional sobre a realidade da Palestina. “Temos que ouvir o que Israel está dizendo: que não vão retirar as tropas até a fronteira de 1967, que não vai reconhecer Jerusalém ou permitir o retorno de refugiados palestinos”, diz a deputada.

Para ela, os acordos comerciais com Israel sustentam a impunidade dos crimes cometidos contra o povo palestino e devem ser suspensos enquanto não houver a retirada das tropas militares das terras palestinas. “Israel não paga o preço dos danos que causa. São feitos 60 acordos com a União Europeia e também com outros países, como o Brasil, o que inviabiliza a cobrança do cumprimento às normas estabelecidas pela ONU para proteção aos palestinos”, disse.

Ela criticou o Acordo de Livre Comércio Mercosul-Israel, por exemplo, que “afeta a relação do Brasil com o povo palestino”. Segundo ela, isto contribui para encobrir os crimes feitos por Israel. “Enquanto eles matam palestinos, são recebidos normalmente pelos países. Não há pressão internacional sobre Israel. Enquanto no parlamento israelense eu cobro que eles têm que pagar o preço pelos crimes que cometem, eles dizem que estão bem com os demais países do mundo. O Ministério das Relações Exteriores me enumera os feitos comerciais ao redor do mundo e isto encobre os crimes de violação de direitos humanos cometidos lá”, conta.

Posição do governo brasileiro é de apoio à existência de um estado palestino livre e soberano, declarou Tarso Genro | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

“A política brasileira é pela colaboração com todos os povos”, diz Tarso Genro

Em nome da política brasileira, o governador gaúcho Tarso Genro (PT) defendeu a diplomacia do governo federal. “As relações econômicas e institucionais entre estados são necessárias hoje de maneira indistinta. O Brasil tem que compartilhar suas visões sobre a ordem mundial, até para ter influencia sobre ela”, defendeu. Sobre a posição do Brasil à Palestina, ele citou o Acordo do Oslo, que previa entre outras coisas a retirada das forças armadas da Faixa de Gaza e Cisjordânia.

“Foi um acordo de reconhecimento recíproco da existência dos dois estados (Israel e Palestina). As correntes políticas abordam o acordo de acordo com a sua visão programática, tanto Israel como Palestina. Se não tivermos um entendimento mínimo sobre este acordo a paz não poderá ser alcançada”, falou. Segundo Tarso, a posição do governo brasileiro “é de apoio à existência de um estado palestino livre soberano”. Mas diz que também há interesse nas relações comerciais com Israel. “Uma colaboração entre todos os povos, independente de quem forem os seus governos”, definiu.

Além de confiscar 85% das terras particulares em que viviam palestinos até 1948, Israel detém 35% de palestinos como presos políticos e domina econômica e culturalmente o território com 35 leis que autorizam a descriminação racial, religiosa e econômica. “Somos menos de 1% no setor privado e 7% dos cargos públicos. Representamos 18% da população de Israel, mas ocupamos apenas 8% das universidades. Metade do nosso povo vive abaixo da linha de pobreza”, conta a deputada palestina Haneen Zoabi.

"Estamos vivendo em uma prisão", assinalou prefeito de Belém, na Palestina, Victor Batarseh | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

O prefeito de Belém, na Palestina, Victor Batarseh também esteve em Porto Alegre e relatou que apenas 8 km de terra da cidade são ocupados por palestinos. “Com o muro de oito metros, estamos vivendo em uma prisão. Só 15% tem permissão para trabalhar. A nossa agricultura foi afetada com a construção do muro e era nossa principal fonte de sobrevivência. Pessoas adoecem ou sofrem infarto e não podem ser atendidas em Jerusalém. Cristãos e muçulmanos são proibidos de rezar”, relatou.

A luta pela liberdade do povo palestino mobiliza campanhas mundiais como a BDS (boicotes, desinvestimento e sanções) a produtos e serviços de Israel. A Organização para a Libertação da Palestina (OLP) já solicitou na Assembleia Geral da ONU o reconhecimento do Estado da Palestina como membro da organização. “A própria ONU até hoje tem se limitado a condenar formalmente alguns dos crimes cometidos por Israel sem, contudo, adotar qualquer sanção ou medida visando proteger o povo palestino das sucessivas agressões israelenses”, diz o documento convocatório do FSMPL.

O Presidente da Federação Árabe-Palestina do Brasil (FEPAL) Elayyan Aladdin espera que o Fórum não seja apenas um evento social. “Espero que o Brasil seja um colaborador efetivo da paz no Oriente Médio”, disse.


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