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27 de junho de 2012
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09:00

Comunidade se organiza para barrar túnel da Anita Garibaldi em Porto Alegre

Por
Sul 21
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Comunidade se reuniu com a prefeitura nesta segunda-feira (25) | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Samir Oliveira

A população dos bairros Mont’Serrat e Bela Vista, em Porto Alegre, está mobilizada para impedir a construção de um túnel na rua Anita Garibaldi. A estrutura possibilitaria uma passagem subterrânea pela avenida Carlos Gomes e faz parte do projeto de cinco intervenções previstas para ocorrer ao longo da 3ª Perimetral em função da Copa do Mundo de 2014.

A obra já é planejada pela prefeitura há pelo menos três anos, quando a Capital foi escolhida como uma das sedes do mundial da FIFA. Mas os moradores da região alegam que só foram tomar conhecimento do empreendimento no final do ano passado, através de uma reportagem veiculada na imprensa.

Desde então, a Associação dos Moradores do Bela Vista e do Mont’Serrat (Amobela) vem tentando conversar com a administração municipal sobre a obra. Eles cobram mais esclarecimentos sobre os impactos da intervenção e exigem a apresentação dos estudos de licenciamento ambiental – já que, de acordo com a associação, mais de 60 árvores terão que ser removidas. Além disso, os moradores estão preocupados com os impactos econômicos do túnel, pois áreas onde hoje funcionam estabelecimentos comerciais na Anita Garibaldi terão que ser desapropriadas para que possa ser feito o recuo que permitirá a construção das novas vias de acesso à avenida Carlos Gomes.

A Amobela questiona, ainda, a efetividade da obra, que contribuirá para desafogar o tráfego na Perimetral, mas, de acordo com a associação, poderá congestionar as ruas e alamedas locais do bairro. Isso porque, com a construção do túnel, quem trafega pela Anita Garbaldi no sentido centro-bairro não poderá mais fazer a conversão à esquerda na Carlos Gomes – o que fará com que os motoristas tenham que procurar retornos alternativos no interior dos bairros.

A obra será feita com recursos federais do PAC da Mobilidade Urbana e custará, no máximo, R$ 10,4 milhões. A licitação foi concluída no dia 17 de fevereiro deste ano e o início dos trabalhos já estão autorizados. A previsão é que o túnel leve até um ano para ser finalizado.

Tensão marcou reunião da prefeitura com moradores

Na noite desta segunda-feira (25), dezenas de moradores da região participaram de um encontro com representantes da prefeitura para discutir o túnel da rua Anita Garibald. Os secretários da Copa, Urbano Schmit (PDT), da Governança, Cezar Busatto (PMDB), da EPTC, Vanderlei Capellari, e de Obras, Adriano Gularte (PTB), foram recebidos na Igreja Mont’Serrat com cartazes contrários à obra. “Se eu quisesse poluição e rua larga, teria comprado meu apartamento na Farrapos”, dizia um dos protestos.

Encontro durou mais de quatro horas e gerou discussões acaloradas | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

A reunião foi tensa, marcada por críticas constantes da população. Ana Luiza, integrante da Associação dos Amigos da Praça Japão, foi uma das primeiras a tomar a palavra. “Não vamos compactuar com o desenvolvimento a qualquer custo. Podemos fazer história na noite de hoje se conseguirmos construir uma alternativa que não priorize só viadutos, carros e asfalto, mas que priorize as pessoas”, defendeu, sendo fortemente aplaudida pelo público.

Um dos momentos mais tensos ocorreu quando uma moradora questionava a necessidade do túnel e, ao mesmo tempo, o secretário de Obras, gesticulando, dizia: “Abre a tua mente!”. Ao ouvir isso, um morador que estava no fundo do auditório xingou Adriano Gularte. “A prefeitura não está aqui para brigar com a comunidade, está aqui para ouvi-la. Quem paga para o senhor ficar aí sentado somos nós. O senhor não vai ficar brabo. Vai sentar e nos escutar!”, indignou-se o cidadão.

Os principais argumentos da prefeitura para a construção da obra foram apresentados por duas arquitetas da EPTC, servidoras de carreira do município. Os integrantes do primeiro escalão presentes no encontro se manifestaram bem menos.

As técnicas da prefeitura observaram que o Plano Diretor de 1999 estipula uma série de intervenções que viabilizassem o desenvolvimento descentralizado da cidade. E, com a construção da 3ª Perimetral, já estavam previstas obras que, no futuro, viessem a desafogar o fluxo da via – que, atualmente, suporta mais de 70 mil veículos por dia. “Temos a responsabilidade de permitir que mais de 70 mil veículos circulem diariamente na 3ª Perimetral”, disse o chefe da EPTC, Vanderlei Capellari.

Projeção de como ficaria o túnel concluído | Foto: Divulgação/PMPA

Por isso, além do túnel da Anita Garibaldi, estão previstos também a construção de uma passagem de nível da avenida Farrapos com a avenida Ceará, outra na avenida Cristóvão Colombo com a 3ª Perimetral, além de um viaduto na avenida Plínio Brasil Milano com a avenida Carlos Gomes e outro na avenida Bento Gonçalves com a avenida Aparício Borges.

Todos esses projetos estão em andamento em função da Copa do Mundo de 2014 e visam à melhoria do tráfego entre o aeroporto e as zonas de acesso ao estádio Beira Rio.

Relatório de impacto ambiental não foi apresentado

O presidente da Associação dos Moradores do Bela Vista e do Mont’Serrat (Amobela), Osório Queroz Júnior, garante que a população da região está irritada com a prefeitura, já que, na reunião desta segunda-feira, não foi apresentado nenhum estudo de impacto ambiental do túnel da rua Anita Garibaldi. “A falta de informação da prefeitura está irritando as pessoas. Estava previsto a exposição do relatório de impacto ambiental, o que não aconteceu”, critica.

Queiroz, que é arquiteto, também cobra a divulgação de estudos de circulação de tráfego na área. “Essa obra não está inserida num estudo sistemático de mobilidade da região”, comenta.

Durante a reunião com a prefeitura, a Amobela contou com o apoio do engenheiro de tráfego Mauri Panitz, que não poupou críticas à obra. “Observa-se de cara que não houve um planejamento global. Essa obra se constitui num desperdício de dinheiro público”, disparou. Para ele, “a prefeitura está enganando a comunidade”.

Osório Queiroz diz que comunidade está irritada com desinformações | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

O represente da Secretaria Municipal do Meio Ambiente no encontro era o supervisor de Praças, Parques e Jardins, Mauro Moura. Ele informou que a licença ambiental da obra já foi liberada, mas não soube dizer quantas árvores precisarão ser derrubadas.

Moura chegou a dizer que seriam apena “duas ou três”, enquanto a Amobela calcula que cerca de 60 árvores terão que ser cortadas. Em contato com a reportagem do Sul21, a assessoria de imprensa da secretaria disse que a prefeitura ainda não sabe quantas árvores terão que ser removidas e que o estudo ambiental ainda está em andamento – sendo que a obra estava prevista para ser iniciada já nesta quinta-feira (28).

“Vamos voltar a conversar”, garante secretário de Governança

O secretário Municipal de Governança Local e Coordenação Política, Cezar Busatto, assegura que a orientação do prefeito José Fortunati (PDT) é que o túnel da rua Anita Garibaldi só seja iniciado quando houver um acordo com os moradores da região. “Vamos discutir internamente e repensar o cronograma. A orientação do prefeito é que não se faça a obra sem que ela tenha sido bem construída com a comunidade”, explica.

O peemedebista considera ser necessário “discutir mais a fundo” a questão. “Vamos voltar a conversar, não tem outro caminho. É preciso haver um trabalho de maior esclarecimento”, entende.

Busatto (de braços cruzados) garante que conversações continuarão ocorrendo | Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Ele avalia que o debate pode estar sendo contaminado pelo período eleitoral. “Esse momento pré-eleitoral é complicado e acaba influenciando o debate. Vereadores e candidatos da oposição se aproveitam dessa situação”, critica.

A vereadora Fernanda Melchionna (PSOL) esteve presente durante toda a reunião na segunda-feira, assim como outros parlamentares, e exigiu a suspensão temporária da obra. “Quando a cidadania se manifesta, o projeto precisa ser alterado ou, então, nem ser realizado”, defende.

Para ela, “a prefeitura tem uma compreensão rasa de democracia”. “O projeto está sendo feito há anos e as obras iriam começar sem que sequer houvesse uma consulta à população. É uma obra enfiada goela abaixo de Porto Alegre”, dispara.


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