Geral
|
28 de novembro de 2011
|
02:04

Um novo padrão de movimentos sociais no Brasil e no mundo

Por
Sul 21
[email protected]

O ressurgimento das movimentações sociais, sob novas formas, em todo o mundo é uma evidência de que estamos atravessando o limiar de novos tempos. Vivemos um momento de transição, que culminará com o estabelecimento de novos padrões de comportamento e a afirmação de novos valores culturais, morais e políticos.

O antigo padrão dos movimentos sociais já se encontra em profunda transformação. Os sindicatos e os partidos políticos, que foram cruciais para a promoção das transformações sociais ocorridas no mundo ocidental durante os séculos XIX e XX, vivem hoje momento de enfraquecimento. Ainda que eles se mantenham como as formas organizativas mais eficientes para a conquista de benefícios coletivos e o exercício do poder político, eles vêm perdendo força como instrumentos de pressão e têm sido relegados a plano secundário pelos novos militantes sociais, políticos e comportamentais.

Mudança, aliás, que se iniciou ainda na segunda metade do século XX, mas que se tornou mais intensa e mais visível no momento presente. Se, por um lado, os movimentos dos jovens, das mulheres, dos negros e dos homossexuais, ao longo dos últimos 60 anos, ocorreram à margem dos sindicatos e dos partidos políticos, que não souberam entendê-los e acolhê-los, por outro lado, foram os sindicatos e partidos políticos que asseguraram o estabelecimento de um padrão de sociabilidade denominada de social-democrata e que se espalhou, ainda que com intensidade variável, por todos os países relativamente desenvolvidos.

Partidos e sindicatos operários formavam, no passado, uma simbiose quase perfeita, sendo que os primeiros, em muitos países, nasceram como desdobramentos dos segundos. Ou seja, os sindicatos operários, percebendo a necessidade de garantir no plano político suas conquistas econômicas e de aprofundá-las, fundaram partidos políticos para os representarem e/ou se associaram a partidos já existentes. Hoje, entretanto, partidos políticos e sindicatos de trabalhadores têm sido quase que ignorados pelas amplas massas sociais.

As mobilizações agora são convocadas pela internet, por meio das redes sociais, e não mais pelos jornais e panfletos sindicais e/ou partidários. Sua estrutura é muito menos vertical e muito mais plural em termos ideológicos. A juventude, que sempre constituiu a vanguarda dos movimentos e das transformações sociais, políticas e comportamentais, continua ativa, mas age por outros meios. Não existe a apatia que se atribuiu a ela. O que falha e falta é (são) um (ou vários) novo(s) meio(s) e instrumento(s) de ação.

O hedonismo, que caracteriza os tempos atuais, o culto ao prazer individual e imediato como princípio e fim da vida moral, não tem sido forte o suficiente para extirpar a ação coletiva e o desejo de construção de novos e melhores tempos e condições de vida para as maiorias.

Ressurgem, em meio à crise econômica mundial, os movimentos de contestação e de indignação coletivos. O Occupy Wall Street, como expressão dos 99% prejudicados pelos abusos do capitalismo ultraliberal e desregrado, se espalha pelo mundo. O mesmo ocorre com os Indignados, nascidos da Praça do Sol, em Madri. A Primavera Árabe, que derrubou ditadores, ainda que não tenha acabado efetivamente com as ditaduras na região, é expressão também da insatisfação popular com o status quo e com a ordem política, social e até mesmo cultural imposta pelas antigas elites dominantes, mantidas durante décadas pelas grandes potências mundiais.

No Brasil, greves e movimentos de contestação, também como formas de extravasamento de uma insatisfação profunda e coletiva, eclodem em diferentes regiões e cidades do país. Exemplos são os movimentos de ciclistas, contra os carros e a poluição; as marchas e os acampamentos de jovens em praças, como forma de ocupá-las e despertar consciências; as manifestações de estudantes, sendo a mais notória a ocorrida na USP; a resistência à ocupação e devastação de áreas indígenas, sejam as do entorno de Belo Monte sejam as do Santuário dos Pajés em Brasília.

Aqui, diferentemente do que ocorre em outras partes do globo, as manifestações convivem com o sucesso econômico e social e não o seu contrário. É o quase pleno emprego, o aumento da renda das famílias e a estabilidade democrática, nunca tão duradoura por estas plagas, que criam os desejos e as condições de manifestação na busca de melhorias coletivas.

É preciso que os partidos políticos e sindicatos de trabalhadores de todo o mundo e particularmente os do Brasil se dêem conta, entretanto, que eles precisam se atualizar e se reciclar. Se eles continuarem insistindo em ignorar as transformações em curso, tanto no plano social quanto no econômico e, ainda, no plano das comunicações, e persistirem adotando as mesmas práticas e posturas adotadas ao longo dos séculos XIX e XX, inevitavelmente serão atropelados e substituídos por novas formas organizativas, mais eficientes e mais adequadas aos novos tempos.

De nada adiantará acusar os jovens de que eles não se engajam e não têm preocupações coletivas. A realidade dos fatos mostra o contrário. A falta de instrumentos adequados para canalizar e dar maior efetividade às ações e mobilizações em curso tem feito com que elas tenham duração efêmera e se esvaiam em poucas horas ou dias, obtendo resultados muito limitados. O novo, quase sempre, demora a surgir, mas quando ele irrompe, atropela com força arrasadora as velhas e carcomidas estruturas.


Leia também
Compartilhe:  
Assine o sul21
Democracia, diversidade e direitos: invista na produção de reportagens especiais, fotos, vídeos e podcast.
Assine agora